Eye in the Sky (Decisão de Risco, no Brasil) é responsável pela primeira discussão ética sobre o uso de drones nas telas do cinema, ao mesmo tempo que se rodeia de clichês para sustentar sua narrativa e seu argumento principal. Com direção de Gavin Hood, o filme tem o poder de manter a atenção do espectador até o último segundo, ainda que a forma para que isso ocorra não seja a mais justa com o próprio público.
O filme inteiro é rodado a partir de quatro perspectivas, que se entrelaçam em torno de um objetivo. Katharine Powell (Helen Mirren) está no centro de comando de uma operação que busca eliminar três dos principais terroristas do nordeste africano. Após notar que a região em que eles se encontram em Nairobi, no Quênia, é perigosa demais para uma intervenção do exército, ela pede auxílio dos drones dos Estados Unidos, que tem o piloto Steve Watts (Aaron Paul) como encarregado pela missão. Por conta da gravidade do caso – já que dois dos terroristas eram britânicos, além de um americano – o General Frank Benson (Alan Rickman) atua como mediador do exército junto do ministro e do procurador geral do Reino Unido para a autorização do ataque, que só é possível graças ao esforço em terra do espião Jama (mais uma atuação sensacional de Barkhad Abdi). Após finalmente resolverem a burocracia em torno do ataque aos terroristas com um míssil, uma inocente garota passa a vender pães junto da área de impacto, e cria um problema moral ainda maior aos envolvidos.
O roteiro de Guy Hibbert capricha no melodrama, que é a ferramenta utilizada a partir da meia hora inicial para manter o equilíbrio do filme até a hora seguinte. A decisão de atirar ou não o míssil é criada lentamente, deixando o thriller com cara de um ‘beat the clock’, onde cada segundo é precioso e necessário para cumprir o objetivo final. Neste sentido, a fotografia do competente Haris Zambarloukos ajuda a criar o clima de tensão com closes em todos os personagens que se deixam levar pelo lado emocional, como o caso de Aaron Paul. Uma das produções finais de Alan Rickman, Eye in the Sky tem o privilégio de contar com uma atuação de luxo do ator, que, junto de Mirren, impressiona a cada segundo. Seu humor negro – seco – é nítido e deixa transparecer uma superioridade intelectual e moral perante os demais membros de sua mesa. Sua participação final, citando que nunca se deve dizer para um soldado os custos de uma guerra, é memorável. Rickman partiu muito cedo, infelizmente.
Ao contrário do dinamarquês Krigen, que visa contar a história de um erro de estratégia que causa grandes estragos, em Eye in the Sky existe uma maturidade impressionante na sala de conferência sobre as proporções que o caso poderia tomar caso a criança morresse. As discussões de Benson com seus superiores nos faz pensar até que ponto os governos de EUA e Reino Unido seguem a risca o que nos foi apresentado nas telas, tendo em vista os ataques recentes de drones que ocorrem na Síria e matam centenas de inocentes. Tema atual e relevante.
NOTA: 7/10