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Aquarius – 2016

É comum ver brasileiros criticando a qualidade do cinema nacional. Com pouco incentivo para produções independentes e com enormes limitações financeiras, está cada vez mais difícil para jovens com potencial mostrar ao mundo suas ideias. Aquarius me fez pensar nessa questão por vários motivos: pergunto-me, por exemplo, até que ponto um governo pode interferir na distribuição de um filme no cinema para evitar (sim, evitar) que seus próprios cidadãos tenham acesso a uma das melhores obras já feitas em toda nossa história.

A crítica musical Clara (Sonia Braga) vive no Edifício Aquarius, em Recife. Viúva e com três filhos criados, ela é a última moradora do local,  e sofre pressão da empresa de engenharia da família do jovem Diego (Humberto Carrão) para vender seu apartamento o mais rápido possível, para dar lugar a uma luxuosa estrutura.

Assistir Aquarius é uma das grandes experiências do ano no cinema. O diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho criou uma história tão poderosa que a sensação de imersão na história é total. Sentimos fortes emoções, angústia e até mesmo medo com o suave e eficaz desenrolar da trama.

A fotografia privilegia as belezas de Recife, e oferece um bom contraste poético a partir do momento em que oferece a possibilidade de comparar a calma de Clara frente à ambição desenfreada da Diego. Em determinada passagem, o apartamento no andar de cima de onde vive a protagonista recebe uma festa – que, na verdade, é palco para tomadas pornográficas.

É neste exato instante que descobrimos a genialidade por trás da construção marcante do personagem de Clara. Ao invés de se sentir humilhada, ela decide chamar um garoto de programa para suprir sua falta de sexo.  É de mais surpresas positivas como esta que precisamos, que rompam com referências do cinema melodramático estadunidense. Com uma composição narrativa mais ajustada do que O Som ao Redor, Aquarius apresenta uma edição primordial, que ressalta a qualidade da atuação de Sônia Braga, definitivamente no melhor momento de sua carreira.

O simbolismo criado por Kleber Mendonça Filho é espetacular! Naquele apartamento, alguns dos melhores momentos da vida da família de Clara haviam tomado lugar. A oferta de mais de dois milhões de reais jamais é colocada na mesa por Clara, que insiste que irá ficar no local até sua morte. É muito mais do que a história do bem contra o mal, ou de uma reação ao desenfreado avanço da especulação imobiliária. Trata-se aqui sobre resistência e preservação da individualidade.

Aquarius não oferece um fechamento que amarra todas as questões discutidas em sua exibição. A ideia é justamente estimular o diálogo para colocar o objeto do filme dentro de nosso próprio cotidiano. A espetacular trilha sonora é a cereja do bolo. Com os recentes contratos de distribuição, o longa de Kleber tem tudo para ser um dos principais destaques de 2016 no mundo. Após a absurda classificação indicativa no Brasil, resta esperar que a seleção composta para realizar a indicação ao Oscar não cometa o fatal erro de barrar o melhor filme brasileiro deste ano.

NOTA: 8/10

IMDb

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