A melhor atuação da carreira de Leonardo DiCaprio. A melhor produção já feita por Alejandro G. Iñárritu. The Revenant (O Regresso, no Brasil) tem todos os ingredientes de um filme épico – e é exatamente desta forma que merece ser tratado.
Hugh Glass é um folk hero nos Estados Unidos. Sua história é extremamente popular e conhecida dentre os que pesquisam as expedições do começo do século XIX no país – afinal, ele é o homem que sobreviveu ao ataque de um urso. E é justamente em torno deste fator que chama a atenção logo de cara que Iñárritu monta as bases seu filme.
Leo DiCaprio dá vida a Glass, caçador de peles que foi deixado para trás por seus próprios colegas após ser atacado por um grizzly. Em meio a um ambiente extremamente hostil por conta dos índios da região, Glass busca recuperar forças para superar as inúmeras adversidades (frio, ossos quebrados, lesões graves, falta de comida e falta de munição) visando retornar ao assentamento americano e vingar a morte de seu filho, esfaqueado por John Fritzgerald (Tom Hardy) – que também foi o responsável por o deixar sozinho.
A grande cartada para tornar a história em algo fantástico está na base do roteiro. Em 2002, Michael Punke escreveu um livro acentuando o drama de Glass. Se na vida real o caçador teve a ajuda de seus companheiros para matar o urso, Punke decidiu tornar o homem uma espécie de lenda de seu tempo, um homem maior que a própria vida, aquele que conseguiu sair vivo de uma situação em que qualquer outra pessoa morreria por conta de sua própria habilidade. É por isto que o diretor deixa claro que o que o espectador vê no cinema é inspirado em fatos reais. Elementos fictícios, como o filho de Glass – uma espécie de ponte para toda a vingança – foi uma saída excelente para acentuar o drama e criar uma adaptação coesa, séria e comprometida.
Voltando aos seus filmes mais escuros, Iñárritu faz de The Revenant uma película com pouquíssimas linhas de diálogo para as quase três horas de rodagem. O que está em jogo é a análise do sofrimento em todas suas estâncias. É visível a entrega ímpar de Leonardo DiCaprio – e quem acompanhou o dia a dia da produção sabe o quanto ele realmente investiu no papel e quebrou paradigmas pessoais. Suas reações são espontâneas (antes que o leitor pergunte, a cena em que ele come carne de um bisão morto é real, e nota-se perfeitamente o desconforto da vida cotidiana por conta do ator ser vegetariano com o alívio fictício de seu personagem, que finalmente encontrou um pedaço de carne para se alimentar) – e é na jornada em busca da vida e do acerto de contas que as condições climáticas extremamente desfavoráveis ficam em segundo plano.
Ainda assim, The Revenant não é apenas um filme de vingança. É uma experiência sobre ser levado ao limite. Geralmente o espectador consegue notar com facilidade neste tipo de filme quando o diretor pede para seu ator fingir uma lesão e fingir passar frio com um belo fundo verde e ar condicionado no estúdio. A decisão de colocar os atores no meio do inverno argentino e canadense – que gerou disputas internas até mesmo dentro da New Regency, que considerava ser desumano tal prática – garante a quebra deste padrão e passa uma credibilidade ímpar.
Iñárritu rodou seu filme com a técnica sequencial, defendo que ela era necessária tanto para ele quanto para seus atores terem a imersão completa que ele buscava. Se o orçamento estourou (e muito) as previsões da FOX por conta desta prática, o lado positivo da mesma também deve ser ressaltado: a qualidade da edição. The Revanant é o exemplo perfeito de como unir cenas de alto teor simbólico e passar a sólida sensação de fluidez.
A fotografia de Emmanuel Lubezki – que optou por gravar sem nenhum filtro, utilizando apenas a luz natural – destaca a batalha de Glass com sua câmera flutuante, que é a principal responsável por fazer das cenas dinâmicas deste filme um trunfo a parte. Nos momentos agitados como nas perseguições a cavalo ou mesmo na batalha de abertura entre índios e caçadores é que se tem a real dimensão do quanto o diretor de fotografia está um passo a frente de seus colegas de Hollywood.
Se Leonardo DiCaprio é a alma do filme, Tom Hardy cumpre com sucesso o papel de coadjuvante e entrega uma atuação de peso. Com muita maturidade, ele dá vida a um homem racional, que tenta se desvincular ao máximo do fator humano. Foi a escolha perfeita para levar as telas a frieza necessária para dar vida a John Fritzgerald.
The Revenant é espetacular e impecável. O melhor filme de 2015 oferece ao público uma experiência memorável.
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NOTA: 10/10
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