O documentário sobre a vida de Amy Winehouse poderia ser extremamente seletivo. Não precisa ser fã para entender que uma análise séria sobre a vida da cantora deveria passar obrigatoriamente pelos seus altos e baixos. Dirigido pelo ótimo Asif Kapadia, o padrão estabelecido desde o primeiro minuto assemelha-se muito com o apresentado em Senna (2013). A diferença é que o piloto brasileiro teve inúmeras polêmicas profissionais, e as pessoais foram acobertadas por conta de sua persona. O caso de Amy é diferente, uma vez que o público assistiu sua decadência, dia após dia, ano após ano. Neste sentido, o documentário toma um rumo de Ascensão e Queda de Amy Whinehouse.
Asif propõe uma análise íntima, explorando relatos de amigos próximos, de seus namorados, agentes e familiares. E essa é justamente a chave para o sucesso desta produção. O diretor busca tratar desde os primeiros passos de Amy como cantora, desde uma apresentação cantando ‘parabéns pra você’, em 1998, até os dias que precederam a gravação de Frank. Aos poucos, o foco é contornado a partir das tensões pessoais de Amy, e algumas explicações são oferecidas ao espectador, sendo que a separação de seus pais (e a falta de uma figura masculina) é mencionada pelo menos três vezes.
O toque poderoso do documentário explica-se pela a aposta certeira também utilizada em Senna. No caso do brasileiro, trechos de corridas; no da cantora, músicas e apresentações que marcaram sua carreira. Sinto que poderia passar tranquilamente mais uma hora ouvindo suas canções intercaladas com relatos sobre sua tão questionada personalidade. O diferencial é que este documentário não é sobre sua incrível voz, ou sobre seu talento para escrita, mas sim sobre o ser humano por trás de tudo isso, suscetível a problemas como qualquer outra pessoa.
A riqueza do conteúdo – foram mais de uma centena de pessoas entrevistadas pela equipe do diretor – dá segurança e credibilidade. Ninguém quer fazer de Amy uma santa. Existem momentos de risadas, choros, e arrependimentos por parte dos entrevistados (suas vozes são postas por cima das imagens que retratam o acontecimento ou um momento da vida da cantora). Em suma, seria como se uma grande roda de amigos discutisse, sem qualquer medo ou receio, quem foi Amy Winehouse.
A partir do momento em que Amy começa a se tornar uma superstar, especialmente após o lançamento de Back to Black, o foco deixa de ser nas suas gravações caseiras e passa a tratar sobre a visão da mídia e de seus amigos sobre o vício nas drogas e no álcool. Tal opção é questionável, mas não consigo pensar em deixar de fora a influência dos paparazzi no dia a dia de Winehouse – especialmente por acompanhar tudo de longe. Amy morreu em 2011, aos 27 anos de idade. Asif poderia explorar um pouco do seu legado, mas optou por rolar os créditos com a versão cover de Valerie, abrindo ao público uma reflexão sobre o drama pessoal da britânica.
NOTA: 9/10
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