Países de língua inglesa geralmente têm enormes dificuldades para selecionar seus nomeados ao Oscar de língua estrangeira – já que os produtores devem comprovar os laços com o país de origem, além da necessidade de rodagem em outra língua. Neste ano, no entanto, o Reino Unido seguiu o consenso em torno de Under the Shadow – que surpreendeu a audiência presente em Sundance, neste ano.
Na década de 1980, Teerã sofreu com a chamda ‘Guerra das Cidades’, episódio da guerra Irã-Iraque no qual as capitais eram alvejadas com bombardeios quase diários, destruindo boa parte da estrutura urbana e matando inúmeros inocentes. Por conta de seu passado no ativismo político, Shideh (Narges Rashidi) é forçada pelo governo a desistir da carreira na medicina. Com a saída de seu marido para o front, seu tempo fica exclusivamente com sua filha, Dorsa (Avin Manshadi).
A metade inicial de Under the Shadow é poderosa, criando um ambiente dramático de alta tensão. É a partir da base de uma história real que o diretor Babak Anvari (estreante) mistura os elementos mágicos e toma a iniciativa de fazer a transição para o terror. Dorsa passa a ficar com medo dos Djinn – espíritos nefastos – e aos poucos estranhos incidentes passam a ocorrer na casa da família.
Durante essa guinada na narrativa, parte da força construída anteriormente perde seu simbolismo. O diretor, no entanto, não deixa de contextualizar o cenário de guerra, e faz questão de mesclar o terror com as dificuldades diárias vividas na capital do Irã na época.
As táticas para conseguir os sustos em seu espectador seguem parte do modelo consagrado, com jump scares, montagem e trilha sonora guiados pelo sofrimento da protagonista, que entrega uma atuação destacada. A complexidade do roteiro é indiscutível, já que o mesmo abre espaço para pelo menos duas linhas de interpretação, seguindo o terror tradicional, sobrenatural, ou a partir do ponto de vista do terror psicológico da guerra, no qual Shideh seria vítima de sua própria paranoia pela série de notícias negativas recebidas em pouquíssimo tempo.
Under the Shadow conseguiu ótimos contratos de distribuição. A parceria com a Netflix, por exemplo, tem potencial para tornar este filme como uma interessante opção de entretenimento, já que a proposta de Anvari é substancialmente diferente da propagada no ocidente.
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NOTA: 7/10
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