Dune é o melhor livro de ficção que já li em toda minha vida. Quem teve a chance de ficar próximo do clássico de Frank Herbert sabe bem do que eu estou falando. Este foi o primeiro universo futurístico criado com uma riqueza ímpar de detalhes. Temos personagens com traits muito bem definidos e uma história que flui de forma muito agradável.
Existe uma máxima que diz que toda a obra de difícil compreensão que foi adaptada para o cinema pode ajudar o leitor/espectador a sanar dúvidas por colocar em imagens um mundo que, de outra forma, estaria preso apenas a nossa imaginação. Dirigido por David Lynch, Dune foi o maior vexame apresentado nas telas do cinema na década de 1980, já que toda a magia de Herbert deu lugar a um mundo extremamente simplista e mal definido.
Conforme apresentei em Jodorowsky’s Dune, por vários anos o diretor chileno trabalhou em cima deste projeto – só teve que sair apos confirmar que jamais conseguiria um aporte financeiro para a realização de seu sonho. Após o sucesso de Star Wars, Hollywood passou a olhar com bons olhos uma adaptação de Dune, e a Universal correu para garantir um roteiro sem o toque surrealista de Jodo. Foi então que o produtor Dino De Laurentiis cometeu um erro que jamais se perdoou: chamou David Lynch para dirigir o longa por conta de seu trabalho em The Elephant Man. O problema é que Lynch não tinha experiência no gênero e sequer conhecia o livro e o universo do qual iria entrar. Ao contrário dos anos de pesquisa de Jodorowsky, seu trabalho foi puramente técnico, algo que se distanciaria a partir de sua próxima película.
Dune é um filme ruim pelo fato de ser extremamente simples. Este seria o ponto de discórdia de Lynch com a Universal, já que a produtora não aprovou o corte final do diretor e ordenou ao mesmo gravar novas cenas e revisar diálogos para diminuir o tempo de exibição. Lynch, como bom profissional que é, aceitou mas prometeu a si mesmo que após o lançamento de Dune nos cinemas jamais trabalharia em um quadro sequer deste filme. Após a chuva de críticas negativas, a Universal levou a televisão uma versão estendida – fato que causou a ira do diretor, que pediu para ter seu nome retirado da película (foi substituído pelo pseudônimo Alan Smithee, usado por membros da DGA para se afastar de seu projeto).
As cenas de ação não convencem e os efeitos visuais são forçados ao ponto de não justificar por um segundo o orçamento de 40 milhões de dólares. As linhas de dialogo do corte final ás vezes tentam abreviar quatro páginas em quinze segundos – um absurdo, para dizer o mínimo.
Se você encontrar Lynch, por favor, nunca mencione Dune. Até hoje o diretor guarda mágoas da Universal e considera esta empreitada como o maior erro de sua carreira. A adaptação cinematográfica de Dune é horrorosa e problemática. Optei por não tratar da história nesta crítica por entender que este é o mais claro exemplo de desconstrução e destruição de um livro feito por Hollywood. Para quem quiser entender/conhecer a história, recomendo uma boa leitura do livro, pelo menos até uma adaptação decente entrar na pauta dos americanos.
NOTA: 2/10