A ficção científica é o gênero cinematográfico que necessita de riscos para continuar promovendo avanços estéticos e narrativos. E, por incrível que pareça, não existe uma pressão dos estúdios e das distribuidoras, mas sim das próprias pessoas envolvidas no processo criativo das produções, que tentam explorar novas tendências em um mercado competitivo e imperdoável. Dito isto, fiquei entusiasmado com as cenas iniciais de Anon, filme da K5 comprado e lançado pelo Netflix. O diretor Andrew Niccol entrega um projeto original sólido, ainda que o resultado final seja comprometido pela tentativa de vender uma conclusão detalhada demais (ao ponto de colocar em questão a própria essência do longa).
O detetive Sal Frieland (Clive Owen) não consegue solucionar um caso. Ele tenta capturar as imagens de um assassinato no sistema Ether (que registra todas as memórias de todas as pessoas) mas descobre que algum hacker está manipulando o sistema e alterando as gravações. Aos poucos a polícia passa a estabelecer relações e Sal desconfia de uma mulher anônima (Amanda Seyfried), que parece não deixar rastros no sistema.
Anon é um filme muito interessante para uma análise técnica isolada. Para um filme de baixo orçamento, a fotografia e os riscos envolvidos com as tomadas em primeira pessoa impressionam. Quando falei sobre a competitividade vigente na ficção, especialmente nos Estados Unidos e Reino Unido, lembro que a esmagadora maioria dos produtores e realizadores embarcam em um exercício de futurologia no qual tentam repetir 2001, de Stanley Kubrick, e ditar gadgets que podem ser aproveitadas com o avanço tecnológico, por exemplo.
Neste caso, Niccol propõe um ambiente simplista em Anon. As mobílias são normais, as ruas ainda dependem dos carros e o fluxo de pedestres é normal. Como a proposta envolve os olhos – e o mundo em torno deles – não é necessário contextualizar ou mesmo explicar o cotidiano das pessoas que habitam o mundo proposto pelo diretor, já que fica claro desde os primeiros minutos que o foco está na análise do fator pessoal a partir do íntimo.
Tendo em vista o calendário da Netflix, Anon é um bom lançamento quando temos em conta o fraco semestre inicial de 2018 nas plataformas de streaming. Fiquei com a impressão de que Niccol poderia entregar um produto muito mais polido caso tivesse mais dinheiro nas mãos, o que ajudaria em detalhes que ficam em segundo plano e que nunca recebem a atenção devida.
NOTA: 6/10