“A história dos negros nos Estados Unidos é semelhante a própria história dos Estados Unidos. E ela não é uma história bonita”. Esta constatação foi feita pelo escritor James Baldwin no final da década de 1960, e vira alvo de profunda reflexão em I Am Not Your Negro (Eu Não Sou Seu Negro, no Brasil), brilhante documentário de Raoul Peck.
A produção não trata diretamente sobre a vida de James Baldwin, um dos grandes escritores estadunidenses do século XX. O espectador sem familiaridade com sua história provavelmente vá estranhar a falta de contextualização. Isso unicamente pelo fato do objetivo de Peck ser ambicioso: ele quer mostrar o mundo através dos olhos Baldwin – suas angústias e seus pensamentos para justificar sua falta de esperança. A inspiração para o projeto surgiu com o trabalho Remember This House, livro jamais finalizado no qual o autor propõe discutir sobre os assassinatos de três grandes líderes do movimento negro nos Estados Unidos: a partir da análise da relação de Baldwin com Medgar Evers, com o Dr. Martin Luther King Jr. e com Malcolm X, o documentário sustenta-se como um forte grito contra o racismo. Mais que isso, a ideia é que os americanos olhem para sua própria história e vejam o quanto o american way of life acabou criando famílias com fraca sustentação moral.
A marcante voz de Samuel L. Jackson dita o tom do documentário. Peck fez um excelente trabalho ao recortar entrevistas de Baldwin com cenas de filmes como King Kong e The Defiant Ones, que ajudam a compreender a problemática relação social a partir do começo do movimento por direitos civis. A presidência de Barack Obama não é encarada de forma personalista, tornando os escritos de James Baldwin ainda mais relevantes quando colocados em perspectiva a partir de uma visão in loco.
Por isso, I Am Not Your Negro adota uma postura muito mais séria e propõe reflexões bem mais originais do que Ava DuVernay fez em 13th, também indicado ao Oscar de melhor documentário. Merece ser divulgado e aplaudido.
NOTA: 8/10
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