No começo deste ano, The Accountant (O Contador, no Brasil) chegou a ser considerado como candidato ao Oscar. Como sempre faço questão de lembrar ao leitor, as prévias iniciais das premiações funcionam a partir das informações de bastidores de dentro das produtoras e distribuidoras. Quando a janela de lançamento do filme foi fixada para outubro, estava claro que as expectativas já não eram das melhores – e que o thriller dificilmente teria o sucesso de Gone Girl. A Warner trabalhou tão pesado no marketing do filme nos Estados Unidos que deu a falsa impressão de que o longa de Gavin O’Connor – com três estrelas de grande prestígio em Hollywood – era extraordinário.
Christian Wolff (Ben Affleck) é o contador mencionado no título do filme. Com uma inteligência única, ele passou por dificuldades na sua infância por conta de seu comportamento peculiar. Em sua primeira aparição, ele ajuda um casal que passa por dificuldades financeiras a burlar os altos impostos do governo dos EUA. Sua vida, no entanto, tem um lado oculto: ele trabalha ao redor do mundo ajudando na lavagem de dinheiro de grandes mafiosos e criminosos. Para manter uma certa discrição. ele aceita o trabalho de fazer uma auditoria na empresa robótica de Lamar Black (John Lithgow), que quer passar a limpo seus cadernos financeiros após Dana Cummings (Anna Kendrick) achar inconsistências. Ao mesmo tempo, a agente do tesouro federal Marybeth Madina (Cynthia Addai-Robinson) ganha uma missão de seu chefe, Ray King (J.K. Simmons), que está diretamente ligada ao contador.
Affleck tem cenas de combate ao estilo de Batman – e acredito que fique difícil para o público não fazer tal relação, tamanha é a forma como ele domina todas as situações. O roteiro de Bill Dubuque é cheio de viradas narrativas interessantes. O protagonista veste o manto de anti-herói, com atitudes típicas de Robin Hood. Deve-se destacar, neste sentido, que é agradável a forma como o diretor trabalha Affleck para dar vida a um gênio assassino carismático. Sim, em meio a tantas turbulências pessoais, existe um espaço caricato para se identificar com uma pessoa solitária e com boas intenções como ele. J.K. Simmons tem um tempo limitado de tela, mas entrega uma bela atuação. Ele traz um equilíbrio necessário, já que Kendrick e Affleck dão vida a dois opostos extremos.
Como de costume, inúmeros buracos ficam em aberto. Isso é um problema do gênero, especialmente no molde estadunidense, que privilegia a ação ao racional. Todas as mortes causadas por Wolff não tem uma consequência direta e nem impacto na tela. São dezenas de corpos descartáveis, que ao invés de passar confiança trazem incertezas. A narrativa tem seu ponto alto na detalhada explicação sobre o passado de Wolff, revelando sua vida com seus pais e seus desafios na infância (através de bons flashbacks). The Accountant oferece um entretenimento bastante agradável. Apesar do espectador mais atento conseguir entender as ‘surpresas’ propostas pelo roteiro com bastante antecedência, a grande atuação de Affleck já vale o ingresso. Além disso, existe o claro potencial para o estabelecimento de uma franquia – que pode ser aproveitada pela Warner pelo bom retorno do filme no circuito mundial.
NOTA: 7/10