Captain Fantastic (Capitão Fantástico, no Brasil) foi a sensação de Sundance 2016. Lembro-me que ouvi comentários extremamente positivos. Após assistir o filme dirigido por Matt Ross, também posso considerar que considero exagerado classificar essa comédia como ‘revolucionária’, conforme mencionado por um prominente crítico dos Estados Unidos. É comum ver a euforia dos colegas que cobrem Sundance, e muitos deles abraçam os filmes deste festival e viram uma espécie de guru, já que a opinião deles passa ao público a impressão inicial do filme, que dura até o lançamento doméstico, ou até a exibição em outro festival. Neste caso, em Cannes já pude observar uma contra corrente, que desconstruía toda imagem positiva de janeiro, e que segue até agora. Faço essa introdução para deixar claro um sucesso em Sundance não necessariamente significa aprovação do restante da crítica e do grande público.
Ben (Viggo Mortensen) cria seus seis filhos sem qualquer laço com a cultura de massa. Eles deixam isso claro quando a primeira ligação mental que fazem com ‘Spock’ é direcionada ao popular pediatra estadunidense Benjamin Spock, e não ao lendário personagem de Star Trek. Ben optou pelo homeschooling ao seu modo, com leitura de clássicos e com atividades como caça e escalada. Suas atividades secundárias passam por discussões sobre a teoria quântica, e o maior evento do ano é o aniversário de Noam Chomsky, que moldou a visão de mundo do pai. Após receber um comunicado sobre o suicídio de sua esposa, as crianças partem para o Novo México para se despedir de sua mãe.
As cenas dessa road trip são marcadas por um profundo confronto culturas. O relacionamento dos filhos de Ben com as crianças de mesma idade cria cenas hilárias, propondo um choque ao mesmo estilo de Borat. A partir da observação da cultura dominante, Ben e seus filhos passam por uma espécie de sincretismo, adaptando sua realidade para o cenário apresentado. Viggo Mortensen é perfeito como protagonista pois ele faz um tipo com pouco carisma – que é justamente o que chama a atenção. Ele não faz a mínima questão de seguir as etiquetas impostas pela elite, e sua camisa da campanha de Jesse Jackson em 1988 (além das discussões sobre teorias marxistas) montam a estrutura familiar a partir de ações vistas nos pequenos detalhes.
Ross procura não arriscar, e opta por um estilo de humor que não deixa o controle do filme escapar de suas mãos. As cenas das crianças bebendo vinho, ou da caça aos animais, tem seu lado cômico reforçado com a maravilhosa fotografia da francesa Stéphane Fontaine (que conseguiu uma linda trinca de filmes em 2016, também com Elle e Jackie). Captain Fantastic é uma ótima opção de entretenimento – com piadas geniais construídas a partir de frases marcantes de Chomsky, por exemplo. Cabe ao espectador não criar grandes expectativas e entender que a proposta de Ross não tem qualquer ligação com uma dramédia.
* Filme visto no Festival do Rio 2016
NOTA: 7/10
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