Após inúmeros atrasos e com um lançamento restrito, Last Days in the Desert (Últimos Dias no Deserto, no Brasil) infelizmente torna-se atrativo apenas pela fotografia incrível de Emmanuel Lubezki. Sem um público alvo bem definido, o diretor e roteirista colombiano Rodrigo García caminha com Jesus através de laços narrativos poéticos, que se aproximam da religião com a mesma facilidade que abrem espaços para considerações subjetivas de seu espectador sobre as considerações tratadas na tela.
Após semanas rezando no deserto da Judeia, Yeshua (Ewan McGregor) encontra uma família em crise. Um jovem (Tye Sheridan) deseja cortar os laços de seus pais e decide que sua felicidade depende de uma mudança para uma grande cidade, enfrentando forte resistência de sua mãe (Ayelet Zurer), cada dia mais doente, e de seu pai (Ciarán Hinds), que não consegue manter um bom diálogo com seu filho.
O cenário desértico é tão poderoso que a falta de articulação de Jesus com seu contexto geral decepciona: a bela fotografia entrelaçada com poucas linhas de diálogo deixam nítida a sensação de que a estrutura foi mal aproveitada. A tentação de Cristo é retratada a partir da visão do diabo (na verdade, um espelho negativo de Jesus) – mas não consegue se alinhar com a história anterior da família, abrindo dois arcos narrativos que nunca são concluídos com sucesso. Isso acontece pela decisão de García de tentar levar uma visão mais humanizada de Jesus, retirando a simbologia cristã sobrenatural para lhe mostrar como um homem qualquer. Seus ensinamentos, portanto, seriam os mesmos dados por qualquer outro homem, já que sua prova de fé é feita para si mesmo. Last Days in the Desert, portanto, poderia muito bem ser interpretado como um filme sobre um homem circulando no deserto da Judéia, enfrentando tentações e solucionando conflitos.
Os momentos de solidão lembram o Gerry, fracasso de Gus Van Sant que também partia da noção de oferecer lindos cenários para uma grande reflexão. Mas essa tática não funciona. Apesar da impecável produção e do trabalho de Lubezki com a luz natural (rodado na Califórnia) – García entrega um produto final confuso, talvez para agradar tanto religiosos como ateus.
NOTA: 4/10