Nota: Para a crítica da versão de King of Kings produzida em 1927, clique aqui
Quando o cinema colorido passou a se tornar opção de entretenimento viável, duas distribuidoras americanas buscaram financiar filmes sobre a vida de Jesus. A Fox, ainda em 1958, esboçou os primeiros planos de The Greatest Story Ever Told, que só seria lançado sete anos mais tarde, após ter seus direitos vendidos para a United Artists. A MGM, por outro lado, conseguiu ser mais rápida e fez do épico King of Kings (Rei dos Reis, no Brasil) um divisor de águas sobre as cinebiografias de Jesus. O diretor Nicholas Ray exigiu uma obra que contasse o contexto social da Galileia, tratando desde o nascimento até a ressurreição de Cristo, fazendo deste o primeiro longa metragem a seguir tal linha. Foi também o primeiro filme a cores sobre Jesus com lançamento mundial, sendo captado através da tecnologia Technirama – o que explica as cores vivas, que possibilitaram uma ótima transferência para Bluray. Por conta da corrida contra o tempo para causar impacto no mercado estadunidense, King of Kings é uma tentativa apressada de abocanhar momentos da história de Jesus, com gravíssimos erros de continuidade e péssima atuação de seu protagonista.
O roteiro assinado por Philip Yordan pede licença para explorar a vida de Jesus abusando do melodrama. Em um dos casos interessantes – e responsáveis pela controvérsia de seu lançamento – Barrabás é apontado como um líder violento, mas que tem certa admiração pela figura de Jesus. Esse contraste com o personagem selvagem que foi caracterizado pelo cinema é apenas uma das tantas adaptações feitas para tentar engajar o espectador na história. Também pode-se notar, por exemplo, uma clara tentativa de tornar as passagens de Herodes e Salomé mais próximas de Oscar Wilde do que dos registros bíblicos.
A atuação de Jeffrey Hunter como Jesus não convence, e é uma clara demonstração do grande erro de casting. Aliás, Ray também deve ser considerado como um dos ‘culpados’ pela tradição estabelecida por Hollywood de mostrar Jesus como um homem de olhos azuis e cabelos claros, completamente fora do padrão étnico da região. Esse foco na busca de um ator com esses traços – Hunter acabou sendo escolhido também pela falta de alternativas – causa cenas constrangedoras, como no Sermão das Montanhas, quando o protagonista tem dificuldade para lembrar de toda a sentença que deveria falar.
King of Kings busca deixar sua marca dentro de seu gênero ao apostar na grandiosidade de sua produção. Os cinco milhões de dólares investidos (quase cinquenta milhões na cotação atual, de 2016) mostram cenários lotados de figurantes, para passar um certo realismo nas tomadas. Ainda assim, passagens problemáticas como as cenas de lutas entre rebeldes e soldados romanos foram bruscamente editadas, também pela falta de coordenação, mostrando que o objetivo era apenas encenar, e não tentar passar realismo e credibilidade ao público. Com isso, pode-se dizer que o filme envelheceu muito mal, mas ainda assim é uma referência, já que tanto George Stevens (com The Greatest Story Ever Told) quanto Franco Zeffirelli (com Jesus of Nazareth) buscaram trabalhar seus filmes em cima dos erros cometidos por Ray.
NOTA: 4/10