Os dramas da Segunda Guerra Mundial que tem como pano de fundo o Holocausto (ou suas consequências) feitos em solo alemão tem uma aguda diferença: ao invés de focar diretamente no sofrimento, a escola germânica aposta em um roteiro metódico, polido e de lento avanço.
Phoenix – história adaptada por Christian Petzold – no entanto, não tem um guião original. Hubert Monteilhet, na década de 1960, escreveu o livro ‘Return from the Ashes’ – prontamente adaptado por J. Lee Thompson anos depois. O diretor mudou nomes, localizações e fez profundas mudanças estruturais para poder dizer com razão que sua história foi ‘levemente influenciada’ por Hubert.
Petzold retoma a parceria de sucesso com Nina Hoss e coloca sua musa no papel de Nelly Lenz, sobrevivente de Auschwitz que sofreu tortura na mão dos nazistas no período em que ficou internada no campo de concentração. Com o rosto duramente castigado, ela recebe a oferta de começar uma vida nova em Haifa. No entanto, a mulher prefere retornar das cinzas por suas próprias pernas. Apenas seu rosto não é o mesmo, já que ela teve que passar por uma intensa cirurgia de reconstrução facial. Sua voz de cantora dá lugar a tons de abatimento completo – e compreensíveis. Assim que retorna à Berlim, Nelly vai atrás de seu marido, Johnny (Ronald Zehrfeld), que não a reconhece e a convida para participar de um esquema em que ele tomaria posse de todos os seus bens, já que ele acreditava que Nelly havia morrido na Polônia. No entanto, aos poucos nota-se que a participação de Johnny na captura de sua esposa pela Gestapo é maior do que o imaginado.
O filme aposta em uma narrativa de terceira pessoa oculta. Acompanhamos Nelly e sua relação com dois diferentes contextos em que ela se envolve. O primeiro é com Lene (Nina Kunzendorf), sua amiga que a acompanhou na cirurgia de reconstrução facial e que quer vê-la de todo o modo na Palestina, assim como milhares de judeus fizeram no pós Segunda Guerra. O outro, bem mais complexo, é com seu marido – que não cogita imaginar que Nelly poderia estar viva. Deste modo, o espectador fica diretamente atrelado à história, já que sabe de tudo antecipadamente. O mais sagaz pode formular uma teoria sobre o final logo nos primeiros minutos; o impaciente pode reclamar da falta de toque, comum nestes casos; o casual talvez considere Petzold detalhista, o que não deixa de ser verdade.
O diretor brinca com o nome mitológico de seu filme – que também é o nome da danceteria em que Johnny trabalha no pós guerra – e deixa aberta a questão chave para o desenrolar de sua história: Nelly vai buscar se vingar de seu marido? Caso positivo, ela irá optar por violência? Caso negativo, por qual o motivo?
A contextualização de cada caso contado por Johnny é trabalhada com exaustão. Apesar do filme ter pouco mais de noventa minutos, a quantidade ímpar de informação despejada em cima do público é impressionante. Quem conhece o diretor talvez se lembre de Barbara – primeira lembrança que me lembrei logo ao me deparar com os minutos iniciais de Phoenix – e que segue o mesmo estilo.
Petzold tem o dom natural de adaptar roteiros. Não seria uma surpresa ver um remake estadunidense – talvez com menos diálogo e mais melodrama. Phoenix é uma boa experiência e um ótimo exemplo para a introdução ao cinema alemão moderno.
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NOTA: 7/10