No começo da década de 1920, o lendário Cecil B. DeMille apresentou aos seus colegas um ambicioso plano de fazer a película definitiva sobre a vida de Jesus. Com a ajuda de Jeanie Macpherson, DeMille montou aos poucos um roteiro baseado em passagens bíblicas em um trabalho que demorou sete anos para ser concluído. The King of Kings (Rei dos Reis, no Brasil) é uma das mais bonitas dramatizações sobre os dias finais de Cristo e se tornou um clássico que começou a ser relembrado com os vários lançamentos em home video.
Ao contrário das interpretações atuais de Jesus, DeMille optou por levar ao cinema um Cristo bastante leve e tranquilo. Até mesmo na cena em que Jesus expulsa os vendedores do templo existe uma boa dose de calma. Em todas as cenas escuras, a figura de Jesus é aquela que brilha, a que sempre se destaca. Apesar da vontade de filmar todo o longa a cores, apenas a introdução e a conclusão foram filmadas no método de duas cores da Technicolor (estima-se que o custo total para produzir The King of Kings a cores exigiria um retorno de bilheteria de três milhões de dólares, três vezes mais do arrecadado).
Durante a produção, Cecil B. DeMille exigiu da sua equipe dedicação total: orações diárias eram feitas antes e depois das filmagens, e o diretor desembolsou muito dinheiro para garantir que H.B. Warner (Jesus) e Dorothy Cumming (Maria) não aparecessem em público por cinco anos em atividades que poderiam comprometer suas imagens, reforçando toda a tentativa de tornar os dois como os rostos definitivos de seus personagens no cinema. Entre as várias fofocas de Hollywood deste período, conta-se também que uma mulher apareceu no set de filmagens e exigiu dinheiro para evitar expor segredos íntimos de Warner, o que comprometeria toda a produção. DeMille, observando o risco de ver seu épico afundar antes mesmo do lançamento, aceitou dar dinheiro a esta pessoa com a condição de que ela deixasse os EUA e começasse uma nova vida na Europa.
Dentre as várias opções no mercado, considero a versão da Criterion como a definitiva: além do DVD trazer uma restauração impecável, temos bons materiais extras, como um breve making of da produção (algo bastante raro de se encontrar em filmes deste período). As trilhas de Donald Sosin (lançada na versão original de 1927), de Timothy J. Tikker (1931) e Hugo Riesenfeld (1931) mostram a importância da música e da banda sonora para a construção de um grande clímax, já que cada um dos compositores optou por tomar diferentes rumos até a ressurreição. Clássico indispensável para os fãs de filmes épicos, The King of Kings foi o primeiro longa a ser exibido no famoso Grauman’s Chinese Theater, onde foi aplaudido de pé. Além disso, foi o primeiro filme a marcar parâmetros de comparação sobre cenas do Novo Testamento, graças a um gigantesco elenco de apoio e um alto investimento nos cenários. Bem menos polêmico que The Ten Commandments (1923), DeMille completaria sua trilogia bíblica com The Sign of the Cross (1932).
NOTA: 8/10
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