Predestination, novo filme de ficção dos irmãos Spierig, é um caso interessante para análise: com pouco mais de noventa minutos de exibição, o expectador tem a impressão ao longo do filme que está sendo enrolado e que a história que deveria ser contemplada fica de lado para dar lugar a um caso absurdo de uma mulher que se vê obrigada a mudar de sexo. Ao rolar os créditos finais, tudo faz sentido. Não acredito que esse tipo de roteiro funcione por um simples motivo: ao invés de desafiar o espectador com diálogos e/ou tomadas inteligentes, os irmãos da Alemanha (também responsáveis pela adaptação do conto All You Zombies) apenas jogaram um final pronto para o público mastigar.
Hawke interpreta um agente especial que busca um terrorista (identificado no filme apenas como Fizzle Bomber) que atormenta a vida de Nova York. Em meio a uma série de viagens ao tempo, o protagonista não consegue matar seu alvo, o que lhe causa um grande desconforto, já que milhares de vidas são perdidas em cada atentado do notório criminoso. Certo dia, o personagem de Hawke começa uma conversa com The Unmarried Mother (Sarah Snook), um homem que escreve uma das colunas mais lidas do Readers Digest – e que abre sua vida para o agente especial em troca de uma garrafa de Whisky. Sem me adiantar nos spoilers, a conversa entre os dois personagens aos poucos se torna a chave para decifrar o paradeiro do terrorista.
O principal problema dos filmes que abordam viagem no tempo é a falta de parâmetros. Como citei ao analisar Interstellar, sempre que um filme propõe uma teoria para voltar ao passado, um grupo de cientistas faz questão de debulhar e derrubar o que é apresentado nas telas. No caso de Predestination, apesar da premissa básica da viagem ao tempo ser irreal, os diretores até conseguem emendar uma explicação para não passar vergonha. Acho que os irmãos poderiam ter utilizado da licença artística para não levar tão ao pé da letra o que o grande Robert A. Heinlein tinha como certeza em 1958.
Ethan Hawke mostra a cada película que esta amadurecendo e entrega uma boa atuação, sem culpa nenhuma pelas falhas do roteiro. Mas é a linda Sarah Snook que se destaca nesta problemática ficção. Acho que este papel irá abrir as portas para uma carreira com um pouco mais de dignidade, considerando os péssimos papeis que caíram no colo da moça ultimamente. A fotografia, alternada entre tons cinzas, marrons e azulados. também merece ser destacada.
Para os fãs do gênero, uma boa pedida. Fora isso, não espere muito de Predestination,
NOTA: 6/10