Dar reboot em uma franquia é um ato extremo: geralmente isso ocorre para tentar superar a última impressão ou pela negativa/impossibilidade de produtores e diretores que trabalharam anteriormente em determinada série. Mas este não era o caso de Hellboy. Guillermo del Toro estava disposto de voltar para fechar a trilogia com Hellboy III – inclusive com um projeto de script entregue pessoalmente para Mike Mignola. Dificilmente saberemos o motivo pelo qual o criador do personagem da Dark Horse Comics não aceitou a proposta de del Toro – mas o que seguiu a seguir foi uma aula do que não fazer durante uma produção. 16 produtores em um único filme (com visões criativas diferentes), demissões durante a produção, um diretor sem pulso para comandar o projeto e até mesmo controvérsia durante ensaios são apenas alguns dos vários casos dos bastidores.
É fato que a Lionsgate tentou justificar o reboot a partir da lógica do Hellboy “para adultos” – muito mais violento, com muito mais sangue e sem precisar seguir limites – algo que aproveitaria o potencial do rating R, por sinal. Mas a realidade é bem diferente. Neil Marshall, cercado por um roteiro fraquíssimo do estreante Andrew Cosby, ficou preso entre a pressão de levar ao cinema o Hellboy estilo del Toro da mesma forma que buscava desesperadamente um rumo novo.
Já que Ron Perlman não entrou em um acordo para participar desta produção – deixando claro seu descontentamento com o rumo da franquia, Mignola chamou David Harbour para interpretar Hellboy. A história até que tenta engatar tópicos interessantes, promovendo, por exemplo, uma discussão inicial que envolve Merlin, Rei Arthur e Nimue (Milla Jovovich) – para então alinhar o contexto da Segunda Guerra Mundial com Hellboy.
O problema é que o trabalho de adaptação foi feito a partir de várias histórias diferentes dos quadrinhos, e a impressão de algo segmentado e sem elo de ligação fica evidente quando o encaminhamento para a conclusão deixa a desejar. Fora isso, o trabalho de efeitos especiais no entorno do cenário é muito ruim – e as cenas de batalhas não apresentam originalidade, apresentando elementos que eu gostaria de ver, por exemplo, em um game hack and slash, e não em um filme.
O reboot de Hellboy tenta passar a borracha nos filmes de del Toro mas, da mesma forma, apela para uma aproximação forçada no campo visual. É o típico caso de um filme que ninguém pediu e que todos sabiam que os riscos envolvidos eram enormes (comprovados com os péssimos números de bilheteria na semana de estreia nos Estados Unidos). Acredito que até mesmo os fãs hardcore da franquia terão problemas para aceitar a confusão extrema feita aqui.
Comentário em vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=5BePPvdvH5w
NOTA: 4/10