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Mary Queen of Scots (Duas Rainhas) - Crítica do filme

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Mary Queen of Scots (Duas Rainhas) – 2018

O impacto que Mary Queen of Scots (Duas Rainhas, no Brasil) causará no espectador depende justamente da visão deste sobre a relação história x cinema. Uma linha de interpretação mais rígida, por exemplo, apontará os erros (graves) de cronologia, simplificações e pequenos detalhes para reprovar a experiência final. Por outro lado, quem concorda que a arte do cinema pode deixar uma abertura para interpretações ao nível de reconstruir figuras históricas – terá bons momentos pela boa atuação do elenco e construção do filme. Admito que pertenço a primeira linha apontada, valorizando muito mais a narrativa e a fidelidade histórica do que o drama exagerado e apenas baseado em eventos reais. De toda forma, reconheço o trabalho técnico – e recomendaria a experiência justamente pela ótima articulação da fotografia com o desenvolvimento do longa.

Aos 17 anos, Mary Stuart – Maria da Escócia, na historiografia em língua portuguesa (interpretada por Saoirse Ronan) já era Rainha da França. Aos 18, já viúva, ela choca a corte da Inglaterra ao buscar seu lugar no trono da Escócia. Sua astúcia, no entanto, é alvo de inúmeras controvérsias. O reformador John Knox (David Tennant), por exemplo, não aceita uma mulher católica no trono, e até mesmo seu meio-irmão, Earl (James McArdle) começa a tramar sua queda. Sua prima, a Rainha Elizabeth I da Inglaterra (Margot Robbie) teme pelo seu trono e por uma disputa mais forte, e acaba se envolvendo diretamente na situação.

Existem pequenos detalhes que tornam a experiência final um pouco estranha para quem tem alguma leitura e conhece a história da disputa entre as duas: o sotaque de Ronan, por exemplo, não condiz com os registros de Mary. Os produtores consideraram que seria confuso demais avançar o sotaque francês em um filme cujo título criaria controvérsia. Ainda assim, esta questão mínima poderia ser resolvida com notas iniciais, dando um rumo bem mais fiel deste o começo. Outra questão está na construção do clímax: Mary e Elizabeth nunca se encontraram pessoalmente, e a dramatização feita no filme me deixou com a nítida impressão de um Oscar bait.

Como mencionei, reconheço completamente o trabalho técnico do filme. A fotografia é muito boa, alternando muito bem o claro e o escuro dentro da história. O impecável trabalho de maquiagem – merecidamente destacado nesta temporada de premiações – é o ponto alto do filme, que ainda conta com uma direção de arte digna e figurinos de época que podem servir de exemplo e inspiração para profissionais que almejam montar um drama histórico.

Uma vez superada a questão teórica sobre a montagem do roteiro – temos uma clara divisão em dois momentos: inicialmente o foco está na construção da corte de Mary e na importância da discussão moral e religiosa no século XVI, contextualizando, na medida do possível, alguns nomes relevantes e o posicionamento político da corte. Essa primeira fase é mais lenta e envolve situações pessoais para dar ao espectador traços da personalidade de cada personagem. Na sequência, temos duas situações distintas: Elizabeth, fechada na rotina de Londres, e Mary – envolta em várias injustiças na busca pelo seu trono – com um gran finale controverso.

Ronan, que aos poucos se consolida na indústria como uma das maiores atrizes da atualidade, mais uma vez faz um bom trabalho (é preciso reconhecer que as falhas do roteiro em torno de sua personagem não passam, em nenhum momento, pela sua atuação). Já Margot Robbie cresceu muito com I, Tonya – e está mais uma vez impecável.

Mary Queen of Scots é um filme do estilo ame ou odeie. Por isso conquistou reconhecimento moderado na Inglaterra e nos Estados Unidos. Mas avalio de forma positiva o primeiro trabalho de Josie Rourke no cinema, com restrições pontuais.

NOTA: 7/10

IMDb

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