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A Chegada - Crítica do filme

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Arrival (A Chegada) – 2016

* Clique aqui para conferir o especial com perguntas e respostas sobre o filme.

Denis Villeneuve é um dos mais talentosos cineastas da nova geração. O canadense já provou que sabe trabalhar com poucos recursos, com pressão de estúdio e com várias estrelas no elenco. Arrival (A Chegada, no Brasil), além de ser o melhor trabalho de sua carreira até agora, demonstra sua maturidade no controle de todos os níveis da produção cinematográfica. Graças a uma estrutura narrativa sólida, as duas horas de filme são marcadas por cenas inesquecíveis. O principal mérito de Villeneuve e de seus produtores foi levar ao público várias possibilidades de análise, tornando a experiência final muito subjetiva e peculiar. Graças ao excelente material base – Story of Your Life, de Ted Chiang – teorias de viagem no tempo misturam-se com breves reflexões sobre o passado, presente e futuro.

Aviso ao leitor que acredito que seja fundamental assistir ao filme sem nenhuma base referencial pronta sobre os personagens e sobre o contexto apresentado. É com a maravilhosa trilha de   Jóhann Jóhannsson (que finalmente deve levar um Oscar) e com um open shot lindo do diretor de fotografia Bradford Young que Villeneuve propõe uma conversa com o seu público através de Amy Adams (em uma atuação de luxo), que interpreta a Doutora Louise Banks, renomada linguista estadunidense. Ela vive para o trabalho e parece descontente – e alguns ‘flashbacks’ tratam de justificar o motivo. Ao chegar para uma aula, sua sala está vazia e os poucos alunos parecem dar atenção apenas aos celulares. Quando ela liga a TV, descobre que doze objetos não identificados simplesmente pousaram em diferentes regiões do mundo. Por conta de uma colaboração anterior junto ao Exército de seu país, o Coronel Weber (Forest Whitaker) a convida para tentar realizar contato com os alienígenas. Ela comanda uma equipe de pesquisa junto do cientista Ian (Jeremy Renner) para tentar descobrir a resposta das várias perguntas que tomam conta do mundo.

Villeneuve rompe com qualquer tipo de clichê do gênero ao estabelecer uma temporalidade cíclica. Breves passagens da introdução contém fatos das cenas finais. A elegante estrutura é melhor do que Interstellar, que provavelmente será utilizado como parâmetro para comparação em determinadas situações, como na relação do hoje com o futuro. Nessa crítica, irei utilizar Interstellar para ressaltar a qualidade do filme de Villeneuve: apesar do filme de Christopher Nolan ser dono de ótimos números de bilheteria, o desgaste por conta da tentativa de criar um eixo dramático em um filme que propõe teorias que exigem muita atenção fica evidente, a ponto do público ter que optar pelo nivelamento da atenção ou pelo foco em um determinado aspecto do filme, considerando que são poucos aqueles que assistem novamente um longa apenas para sanar a curiosidade ou para resolver questões. Em Arrival, todo o loop temporal é explicado de forma decente e coerente, e o drama existencial que corre de forma secundária não atrapalha em nenhum momento e não apressa quaisquer conclusões. Ao invés das dúvidas de Interstellar, Arrival propõe pensar tanto no campo da ficção (será que eles não simplificaram demais as leis da física?) e mesmo no campo do real (será que os governos reagiriam da forma apresentada no filme?)

Arrival é uma obra prima. É o tipo de filme que marca época por renovar o potencial do cinema. Não é uma simples história sobre uma possível invasão alienígena, mas sim uma parábola perfeita sobre o mundo moderno, ressaltando a necessidade da comunicação com tudo e com todos. Também é a melhor expressão visual sobre o Amor fati de Friedrich Nietzsche. Villeneuve apresenta a melhor ficção científica dos últimos tempos e eleva ainda mais o nível de qualidade esperado de Blade Runner 2049.

NOTA: 10/10

IMDb