Estava claro que Aquarius não conquistaria a nomeação nacional para disputar o Oscar de melhor filme de língua estrangeira. Alguns pequenos indícios não deixavam a mínima dúvida de que o governo Temer faria tudo para barrar o longa.
- Após o protesto de Cannes, estava claro que os novos membros do Ministério da Cultura foram orientados para abafar o potencial filme. Afinal, qual governo gostaria de ser denunciado na principal premiação do cinema?
- As nomeações por parte do Ministério para compor o júri e tomar a decisão final foram, no mínimo, controversas.
- A classificação indicativa no Ministério da Justiça beirou o absurdo e ridículo, tentando utilizar de um artifício ‘legal’ para censurar a principal produção do país neste ano.
Tendo em conta o movimento para barrar Aquarius, os diretores Gabriel Mascaro, de Boi Neon, Anna Muylaert, de Mãe Só Há uma e Aly Muritiba, de Para Minha Amada Morta retiraram seus respectivos filmes da disputa. Afinal, eles seriam os principais candidatos, que competiriam e que até poderiam causar certa controvérsia caso fossem nomeados.
Dadas as desistências, e a completa falta de um concorrente direto, um contragolpe passou a ser orquestrado dentro do Ministério da Cultura. Ele envolvia diretamente o filme ‘Pequeno segredo’, que infelizmente se aproveitou da polêmica em cima de Aquarius para se apresentar como uma opção viável.
O filme, que acabou sendo indicado pelo Brasil, estrearia no dia 10 de novembro no mercado nacional – o que comprovava sua total falta de ambição neste ano (talvez brigasse por vaga apenas no ano que vem). Digo isso pela regra B.1 da Academia, que diz que o indicado do país deve estrear em território nacional por sete dias seguidos, com divulgação nacional. Se o filme não adiantar sua estreia, tornar-se-á inelegível, já que a Academia não considera sessões privadas e eventos especiais na data de abertura.
Para Aquarius, fica o gosto da injustiça. Será uma vergonha imensa ter que explicar ao mundo que nosso país não indicará seu melhor filme por conta de brigas políticas. Fora isso, foi extremamente bizarro acompanhar que os membros do júri ainda justificaram a escolha dizendo que o filme ‘tem cara de Oscar’. Ora, existe uma fórmula pronta para o sucesso? Quantas vezes o Brasil levou o principal prêmio do cinema? Ainda nesse mês publicarei um artigo no Indiewire sobre a situação.
Torço para que a Academia indique Braga para o prêmio de melhor atriz (que estará apta, já que o filme estreia no circuito dos EUA em tempo apto). Seria a resposta perfeita para essa comissão e para o Ministério da Cultura.