Abordar o Oscar de melhor filme estrangeiro é uma tarefa extremamente complicada. E, sem sombra de dúvidas, minha favorita para discussão nesta época do ano, já que temos algumas variáveis que mudam a cada ano para colocar em pauta.
Ano passado, recebi pelo menos três pedidos para a explicação de como são montadas as pré-listas da Academia. Por conta disso, gostaria de anunciar que, a partir de novembro, vou fazer uma série especial sobre o sistema de votação e sobre os grupos específicos (branches) da Academia, com o objetivo de solucionar todas as dúvidas dos leitores sobre o processo pré-Oscar.
Neste post, no entanto, pretendo discutir sobre os favoritos ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Ao contrário do que se possa imaginar, a tarefa de análise prévia dos filmes com potencial não é tão difícil quanto parece. Nos últimos vinte anos, a tendência é que os principais nomes já tenham algum tipo de lançamento já no mês de agosto, como ocorreu com todos os indicados da última nomeação.
Na cobertura do Oscar do ano passado, tive a chance de acompanhar de perto várias discussões internas feitas pelo comitê de seleção de filmes estrangeiros, que me ajudaram, por exemplo, a entender a importância da construção geral de uma produção a partir de determinados tópicos pré-estabelecidos para conseguir uma indicação, pelo menos.
Destacaria:
- Visibilidade do projeto;
- Contextualização geral (a Academia prefere filmes com profunda pesquisa histórica, ainda que isso não seja um pré-requisito)
- Gênero (drama)
- Posicionamento estético e autoral;
Um franco-favorito surge com grandes credenciais: trata-se de Forushande (The Salesman), do Irã, com direção de Asghar Farhadi (vencedor do Oscar com A Separação). Vencedor do prêmio de melhor ator e melhor roteiro em Cannes, o longa terá lançamento mundial previsto para a ‘janela do Oscar’ – entre novembro e janeiro. Farhadi tem excelente relação com o branch de filmes estrangeiros, e sua nomeação é vista como uma certeza em Los Angeles.
Outro forte candidato é Bacalaureat (The Graduation) de Cristian Mungiu (melhor diretor em Cannes). Apesar do cinema romeno ser visto como um dos principais da Europa neste novo milênio, a New Wave não chamou atenção da Academia. Tanto é que um dos episódios mais controversos da história da premiação ocorreu com o esnobe de 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, o melhor filme daquele ano. Sieranevada corre por fora.
A grande surpresa pode ficar com a nomeação alemã – que tem uma escola consolidada e enorme prestígio. Toni Erdmann conquistou a crítica em Cannes – mas a dramédia pode esbarrar em suas três horas de duração – que dificultaria ainda mais suas chances reais de premiação.
Vencedora do penúltimo Oscar com Ida, a Polônia apresenta sua escolha dividida: Córki dancingu (The Lure) venceu o prêmio especial do júri em Sundance, enquanto Zjednoczone stany milosci (United States of Love) conquistou Berlim, inclusive vencendo o prêmio de melhor roteiro. O primeiro destaca-se pela incomum mistura de dramédia com musical, enquanto o segundo apresenta um drama clássico – comum da escola do leste europeu.
Diferentemente dos últimos anos, o cinema italiano não parece ter um candidato consolidado. Perfetti sconosciuti (Perfect Stangers) entra em cena como o filme de melhor recepção até agora, com altos índices de bilheteria.
A grande batalha interna – que toma a atenção de todos nós que cobrimos o Oscar durante o ano inteiro – está em Israel: o país apresenta quatro filmes de enorme potencial: Junction 48 venceu como melhor ficção em Berlim e ganhou o prêmio de narrativa em Tribeca. Sufat Chol (Sand Storm) ganhou prêmios em quatro dos seis festivais que entrou (incluindo o juri de Sundance). Shavua ve Yom (One Week and a Day) teve grande impacto em Cannes, conseguindo auxílio na distribuição. Por fim, The Zohar Secret entra como o preferido do público do país até o momento.
A Colômbia promete mais um ano competitivo com La ciénaga entre el mar y la tierra (Between Sea and Land), preferido do juri especial e do público de Sundance. A Suécia apostará em Aloys (vencedor do prêmio da crítica em Berlim). Pablo Larraín tem apoio do governo chileno para entrar nos festivais a partir da metade final deste ano com Neruda. Mas é provável que a disputa seja acirrada, já que uma ala defende a indicação do país para Alejandro Jodorowsky com Poesía sin fin.
O Brasil luta por pelo menos uma chance na pré-lista com Aquarius. O sucesso do longa é notório e merecido. No entanto, é possível que a indicação fique presa por questões políticas – o que seria, no mínimo absurdo.
NOTA: As seleções nacionais geralmente ocorrem entre julho e setembro.
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