Por mais encantador que seja, o xadrez é um jogo muito restrito. Não é para menos seu uso no cinema é restrito – e talvez a passagem memorável nas telas seja a morte jogando contra o cavaleiro medieval em O Sétimo Selo, de Bergman. Pawn Sacrifice (O Dono do Jogo, no Brasil) destaca-se por dois motivos: para os fãs de xadrez. é uma bela homenagem à rivalidade do soviético Boris Spassky com o americano Bobby Fischer, que resultaria no lendário ‘jogo do século’. E para quem não tem interesse no jogo em si, a produção retrata, através de um drama de alto nível, os problemas pessoais enfrentados pelo campeão americano, que desapareceu da vida pública com a mesma velocidade que se tornou referência para uma geração de jovens de seu país na década de 1970.
Bobby Fischer (Tobey Maguire) tornou-se um prodígio do xadrez aos treze anos de idade. Colecionando títulos nacionais, ele conta com a ajuda de seu advogado, Paul Marshall (Michael Stuhlbarg) e do padre Bill Lombardy (Peter Sarsgaard), que ganhou um jogo de Fischer ainda quando o jogador dava seus primeiros passos, para moldar uma estratégia para desafiar o campeão mundial Boris Spassky (Liev Schreiber), orgulho da escola soviética.
Maguire e Schreiber entregam ao espectador dois retratos muito diferentes: aos poucos, o americano passa a sofrer com o que ele considerava ‘uma conspiração soviética-sionista patrocinada pela CIA’ que visava sua destruição. Ele não confiava em nada, em ninguém. Sua saúde mental contrastava com a frieza de Spassky, um dos maiores jogadores de xadrez da história, que aos poucos passa a entrar na mesma paranoia de Fischer – obviamente um recurso de roteiro.
O diretor Ed Zwick consegue recriar a experiência dos jogos entre Spassky e Fischer de forma bem agradável, buscando apoio na cobertura da imprensa, por exemplo. O toque do filme assemelha-se muito a de um thriller, o que ganha embasamento a partir da proposta inicial de investigar os problemas pessoais do americano, que busca ser um homem cada vez mais recôndito, apesar de todo o interesse da mídia e até mesmo do presidente Nixon.
A bela maquiagem torna Schreiber irreconhecível em algumas cenas, e não tenho dúvida de que ele foi a escolha perfeita para o papel. A fotografia busca mostrar o isolamento de Fischer na Islândia para tentar abordar o quanto sua louca ideia de conspiração influenciou sua bela trajetória. Neste sentido, Pawn Sacrifice é uma ótima dramatização moldada a partir do excelente documentário Bobby Fischer Against the World. Infelizmente seus problemas de distribuição e a falta de agressividade da Bleecker Street, ainda com pouca experiência no mercado de filmes, não conseguiram bons resultados na bilheteria,o que é uma pena, dada a qualidade das atuações e a profundidade da análise dos homens aqui retratados.
NOTA: 7/10