Dentre todos os filmes feitos pela New Wave Romena até hoje, The Paper Will Be Blue é o único que busca explorar os incidentes bizarros ocorridos no dia da Revolução Romena. Por conta disso, devo avisar para o leitor que se interessar pelo filme dirigido por Radu Muntean, que o longa não busca oferecer qualquer explicação sobre a véspera de Natal de 1989, ocasião na qual o ditador Nicolae Ceaușescu buscava fugir das mãos dos revolucionários. Ou seja, um conhecimento prévio sobre o tema é fundamental para a compreensão do caso discutido aqui.
Bastante popular no circuito independente da Europa, The Paper Will Be Blue inicia com a mesma cena que termina. Costi (Paul Ipate) é um soldado de um órgão de contrainteligência que decide largar as armas para lutar com a milícia. Seu comandante decide procurar pelo rapaz, para evitar que o mesmo seja levado para a corte marcial. Logo no minuto inicial, descobrimos que ele e seus parceiros acabam executados em um ponto de controle do Exército. Através de um flashback, Muntean conta como surgiu a confusão.
Baseado em uma história real dos dias da Revolução, o filme mostra com fidelidade o caos total nas ruas romenas. O exército luta contra si mesmo em busca do poder, e nem mesmo os Generais sabem em quem podem confiar. O clima de vitória da população, que ostentava bandeiras da nova Romênia, acaba fazendo com que Costi perca a cabeça. A brutal execução de todo o esquadrão do protagonista – por conta de uma comunicação errada com um blindado de outra unidade – dá o tom perfeito do tamanho do desencontro da noite em que o filme é ambientado (que passa desde uma luta pelo controle da emissora de TV até um código errado, que dá nome ao filme).
Com um baixo orçamento, o filme surpreende pela incrível sensação de imersão proporcionada. As ruas misturam um tom silencioso com a euforia em torno de um novo governo. A trilha sonora discreta ressalta os barulhos de tiros perdidos pela noite, sem rumo definido.
The Paper Will be Blue é considerado hoje como um dos melhores filmes do cinema romeno. Para quem viveu o ano de 1989 no país, um retrato fiel da Revolução nas ruas. Para quem se interessa pela história do país, um prato cheio. Motivo pelo qual Muntean é o cineasta mais popular de seu país.
NOTA: 8/10