James Randi é uma figura folclórica nos Estados Unidos. Já tive a oportunidade de acompanhar uma palestra dele na cidade de Los Angeles, e me lembro que fiquei extremamente surpreso ao notar a quantidade de pessoas interessadas em sua fala. Não é pra menos: Randi tem em seu currículo uma experiência ímpar em mágicas, sendo um dos mais talentosos ilusionistas do século passado. Seguidor do legado construído por Harry Houdini, James queria ser melhor que seu ídolo de infância em todos os aspectos – e para isso se dedicou para quebrar vários recordes estabelecidos por Harry ao longo de sua vida.
O amor pelo ilusionismo fez com que Houdini e Randi batalhassem contra os espiritualistas que enganavam o público com truques de mágica com o objetivo de serem considerados paranormais. Enquanto Houdini denunciou a fraude de Mina Crandon na década de 1920, Randi, após se aposentar, decidiu ir atrás de Uri Geller, que ficou famoso por dizer que entortava garfos e colheres com o poder da mente.
Neste sentido, o documentário An Honest Liar – recentemente liberado pelo Netflix – busca analisar a interessante vida de Randi – dividindo suas conquistas profissionais com sua difícil vida pessoal – que sofreu um abalo recentemente após seu parceiro de longa data ficar preso por uma acusação de falsidade ideológica.
Logo na primeira frase, Randi explica o título desta produção. Como mágico e ilusionista, ele se coloca na posição de mentir para o público – sua capacidade para enganar qualquer pessoa é ímpar. No entanto, ele é um mentiroso honesto, pois sempre avisou antecipadamente de seus truques – ao contrários dos charlatões que desmascarou durante toda sua vida, mais preocupados com dinheiro, poder e fama.
Na parte profissional, após uma breve trajetória da carreira de Randi, os diretores Tyler Measom e Justin Weinstein oferecem ao espectador casos curiosíssimos desmascarados pelo cético. O que mais chama a atenção, sem sobra de dúvida, é a gigantesca operação para desmascarar Peter Popoff, evangelista americano que dizia ter poderes de Deus para curar os doentes. Randi e sua equipe descobriram que o ‘poder especial’ de Peter na verdade era um ponto em seu ouvido, no qual sua mulher repassava informações sobre pessoas doentes na plateia para fazer um espetáculo de cura – e, claro, arrecadar milhares de dólares. Nas últimas cenas, a expressão ‘mentiroso honesto’ ganha um outro sentido quando Randi se defronta diante de um problema pessoal que ocorreu durante as tomadas para a formulação deste documentário. É interessante observar como os diretores aproveitaram dessa oportunidade para humanizar a figura de Randi, popularmente considerado como um velho mal encarado.
Randi – que para os brasileiros lembra uma figura caricata como Padre Quevedo – ainda está ativo e oferece um milhão de dólares para qualquer pessoa que comprove que tenha poderes especiais. Mesmo já tendo oferecido o desafio para os maiores médiuns do mundo – até hoje ninguém apareceu para coletar o dinheiro.
NOTA: 7/10