Recentemente tivemos aqui no site o especial da New Wave Tcheca, onde abordei sobre os principais filmes deste movimento. Decidi adiar a análise de Valerie a týden divu (Valerie e a Semana das Maravilhas, no Brasil) para esperar a versão em Blu Ray da Criterion, que consegui alguns dias antes de seu lançamento no mercado americano.
Adaptado do famoso livro homônimo da década de 1930, o longa dirigido por Jaromil Jires trata sobre uma semana na vida da moça referenciada no título (Jaroslava Schallerová). No começo do século XX, Valerie vive em uma pequena comunidade com sua avó – que possui hábitos muito peculiares que quase sempre respingam na jovem. No período em que a acompanhamos, uma trupe de atores e um grupo de missionários chegam para agitar a vida da cidade ao mesmo tempo em que Valeria desperta para o sexo durante sua primeira menstruação. Seu sangue é responsável pela divisão quase imperceptível entre realidade e ficção – criando vampiros e seres maléficos em sua vida. Até mesmo um jovem músico (Petr Kopřiva) é vítima destes contrastes pessoais, deixando de ser namorado para se tornar irmão de Valerie.
O filme teve uma recepção calorosa na França, mas o sucesso não foi o mesmo na Tchecoslováquia. Jires abusou do surrealismo e criou uma pérola de difícil compreensão para aqueles que chegam sem nenhuma bagagem na New Wave. Como afirmei em artigos e críticas anteriores, é necessário entender todo o período para poder ter noção do motivo pelo qual os diretores optavam por ir contra a tradicional abordagem de roteiro início-meio-fim. Cabe ressaltar que Valerie não traz nenhuma crítica oculta aos soviéticos – e também não tem pretensão de ser referência na luta política contra os burocratas tchecos como queria Milos Forman. O diretor aproveitou o último suspiro do movimento de seu país para levar ao cinema um projeto complexo e delicado – já que envolve cenas com sexo explícito, nudez infantil e até mesmo uma erotização exagerada da protagonista. Foi por este motivo que os soviéticos proibiram o lançamento deste filme em Moscou – e nos EUA só chegou nas sessões de meia noite.
Para quem quiser uma experiência completa. a Criterion tratou de restaurar todo o filme e encheu a versão em Blu Ray com extras interessantíssimos. Temos uma entrevista impecável com Peter Hames – maior autoridade acadêmica em se tratando de cinema tcheco – e preciosos curtas do diretor Jaromil Jireš. Valerie também marcou o fim do período de liberdade do cinema da República Tcheca, que viu-se obrigado a novamente seguir as orientações soviéticas após 1971 por conta do fim da Primavera de Praga.
NOTA: 6/10