Estava no encontro dos indicados ao Oscar de melhor documentário em Bervely Hills, e posso afirmar que, apesar de Citizenfour dominar a atenção da mídia, foi The Salt of the Earth (O Sal da Terra, no Brasil) o que mais chocou, após a Academia selecionar uma cena em que Sebastião Salgado fala sobre as condições sub-humanas da África registradas em suas lentes.
Infelizmente os brasileiros tem a péssima fama de não prestigiar seus grandes nomes da arte. Por duas vezes, enquanto cobria o Oscar, fui questionado sobre o motivo de Salgado ser motivo de tanta polêmica. Para os desavisados, explico que o fotógrafo é duramente criticado – tanto na Academia quanto em setores da imprensa – por comercializar a desgraça ao fazer exposições luxuosas e livros caríssimos de fotos que mostram o lado negro do mundo. Se sua técnica é inquestionável, é justamente em um tópico fora de seu alcance profissional que mora a controvérsia que persegue sua carreira. Poderia citar mais cinco ou dez fotógrafos de renome que também trabalham com fotografia social e vendem seus trabalhos tranquilamente. Mas no Brasil tudo é mais difícil. A grande questão é: será que um fotografo social deve ficar preso aos fantasmas que presenciou? Ora, se a relevância do trabalho de homens como Salgado é óbvia, então a publicidade torna-se fundamental para levar ao maior número de pessoas possíveis imagens que possam chocar, pois é justamente deste choque de realidade que a sociedade ocidental precisa, não é?
Polêmicas à parte, Wim Wenders e Juliano Salgado contam a trajetória de Sebastião a partir uma cronologia de suas principais aventuras. As missões africanas se destacam (na sessão em que eu estava pude presenciar algumas pessoas fechando os olhos em duras imagens de crianças desnutridas, ou de uma pilha de corpos a espera de terra. Em nenhum momento Wenders quesiona o trabalho de Sebastião – algo bastante previsível. O documentário vira uma grande celebração a vida deste fotógrafo, e os minutos finais trazem uma bonita mensagem de esperança. Não é difícil para o espectador acompanhar a visão de mundo de Salgado, mas falta aquela pulga atrás da orelha que homens como Werner Herzog fazem com tamanha competência. Imagino o diretor alemão, por exemplo, rebatendo as respostas do brasileiro e gerando diálogos que poderiam ir além dos comentários sobre fotografias.
Infelizmente o timing do lançamento não foi o melhor possível. Os produtores e as distribuidoras poderiam ter se organizado para levar o filme a um público muito maior no mês do Oscar, especialmente aqui no Brasil. O lançamento em março prejudicou bastante a arrecadação, já que a audiência ficou muito restrita (e, infelizmente, o número de cinemas que exibiram O Sal da Terra em seu lançamento foi mínimo). Um caso muito peculiar, daqueles sem explicação quando olhamos que a produção rodou o mundo e entrou em vários festivais. Apesar disso, o documentário de Wenders tem vários méritos e certamente será alvo de boas discussões no Brasil.
NOTA: 8/10
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