Fando y Lis foi o primeiro filme dirigido por Alejandro Jodorowsky. Lançado no festival de Acapulco de 1968, um tumulto generalizado tomou conta da sessão de estreia. Cadeiras foram atiradas em direção à Alejandro e o diretor Emilio Fernández chegou a ameaçar seu colega de morte. Em um curiosos caso do cinema, Roman Polanski tomou as dores de Jodo e bateu boca com Fernández por vários minutos, uma vez que considerava a película apresentada como um exemplo concreto da liberdade de expressão no cinema. Não deu muito certo. Fando y Lis foi banido no México na semana seguinte, e as autoridades locais só permitiram a apresentação do longa quatro anos depois.
Se o lema de que a primeira impressão é a que fica é real, Jodorowsky pode argumentar que sentiu o gosto dos dois lados da moeda. Se no México seu longa era desprezado, na França a exibição lotava as sessões da meia noite dos cinemas de rua. Sua popularidade por lá era crescente, já que André Breton fez questão de apresentar a Jodo os principais nomes do meio surrealista de Paris, possibilitando a organização do Mouvement panique, composta por Jodorowsky, Fernando Arrabal e Roland Topor para combater o que eles consideravam o abuso populista do surrealismo, ou seja, fazer qualquer forma de arte abstrata e dizer que tal trabalho tinha raízes nos autores, pintores e/ou realizadores clássicos e visava se distinguir ao unir o humor com o terror e a simultaneidade.
Fando y Lis surpreende pela abordagem direta e pelas várias menções indiretas ao grande Buñuel. O roteiro foi adaptado por Jodo da obra de Arrabal, e mostra o casal do título (interpretados por Sergio Kleiner e Diana Mariscal) na busca pela cidade de Tar, a única que não sofreu com a destruição do período da guerra. Enquanto Fando é um determinado homem que tem uma paixão ímpar por seu tambor, Lis é paraplégica e depende de seu namorado para realizar praticamente todas suas atividades cotidianas.
O longa é dividido em cantos. Desde a primeira cena notamos o traço surrealista ao nos depararmos com Lis comendo uma planta. A sequência é ainda melhor: um pianista toca seu instrumento em chamas enquanto um baile ocorre em meio aos destroços de uma cidade. As precárias técnicas de edição podem ser explicadas pela falta de recursos do diretor (algo que foi um sério problema durante toda sua carreira). Temos sobreposições de imagem feitas manualmente, cortes na tesoura e duplicatas de algumas tomadas.
O simbolismo das cenas é bastante discutível. Ao contrário de Buñuel, Jodo faz questão de deixar claro suas influências. Uma das cenas do relacionamento do casal lembra muito L’âge d’or, por exemplo. Temos um vasto campo aberto para todos os tipos de interpretação – tanto é que alguns acadêmicos já publicaram longos artigos tentando desmistificar as ideias do diretor chileno, que declarou ter inserido em vários momentos passagens de sua infância, em Santiago.
Essencial em um estudo sério sobre Alejandro Jodorowsky, Fando y Lis contém fortes cenas de nudez para sua época, seguindo a primeira regra do Mouvement panique: chocar o público alvo.
NOTA: 7/10
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