Quando um documentário visa abordar sobre um problema crônico de um país, existem duas formas de atacar o objeto de análise: a primeira – e mais difícil – seria contextualizar a situação e, a partir disto, enrolar um roteiro que envolve personagens da zona em destaque; a outra, mais comum e muito menos desafiadora, busca isolar um caso para causar impacto. E é justamente esta última fórmula que é utilizada pelos produtores de Born Into Brothels: Calcutta’s Red Light Kids (Nascidos nos Bordéis, no Brasil) – vencedor do Oscar de melhor documentário na premiação de 2005.
Zana Briski e Ross Kauffman tratam da vida de um punhado de crianças de Calcutá que nasceram e foram criadas em ambientes desfavoráveis para o desenvolvimento saudável. Ao invés de brincadeiras, preocupações. É triste observar meninas sendo preparadas pelas próprias famílias para tornarem-se prostitutas e seguir o legado de suas mães e avós. Cada uma das vidas retratadas em Born Into Brothels tem uma peculiaridade especial, e a análise da personalidade de cada uma passa diretamente pela observação das fotos tiradas durante os passeios (todas crianças receberam máquinas Kodak para registrar o que bem entendessem).
O problema da construção deste documentário está em não propor uma discussão séria sobre o caso, jogando a responsabilidade para o espectador engolir a seco. Existe um começo, um meio e um final, e, por mais que os realizadores mereçam elogios pelas nobres intenções, faltou o dedo na ferida, faltou ir atrás do governo da Índia, faltou ir atrás das ONG’s. O discurso é lindo, algumas cenas são emocionantes, mas o que mudou? Na conclusão descobrimos que apenas duas crianças conseguiram se manter no internato, uma solução encontrada para tentar tirá-las das ruas. As demais voltaram para as casas sujas, para o ambiente dos bordéis. Estas meninas provavelmente devem estar no mundo da prostituição e das drogas.
A vitória deste longa foi uma a maior surpresa na categoria de documentário na última década. Fica a pergunta: será que Born Into Brothels foi capaz de mudar alguma coisa no cotidiano de Calcutá ou saiu de campo da mesma forma que entrou?
NOTA: 5/10