Fazer a cinebiografia de um homem cuja vida tem poucas fontes para referência além de suas obras parece uma tarefa muito complicada. Quando a Sony iniciou o projeto de realizar um longa sobre a vida do pintor J. M. W. Turner, várias perguntas surgiram: qual a base para recriar sua personalidade? Mais: de onde retirar material para dar ao espectador um retrato plausível sobre quem foi e quais eram as ambições deste pintor?
O longa explora de maneira satisfatória a etapa final da vida de Turner, mas as duas horas e meia de exibição não são o suficientes para apresentar de forma concreta suas técnicas e a grande mudança de sua visão de arte em seus anos finais. Como exemplo, se em 1835 o pintor encantou parte ingleses com The Fountain of Indolence em seus traços bem definidos, uma década mais tarde Turner tinha problemas para se promover no meio artístico. O quadro Sunrise with Sea Monsters, por exemplo, não foi bem recebido pelos seus pares por conta dos rabiscos que pareciam não ter nenhum sentido para os olhos do público sedento por obras que retratassem de forma clara belezas naturais, grandes construções ou batalhas épicas. A Rainha Vitória, por exemplo, considerava as obras de Turner como esteticamente feias, e a aristocracia inglesa via em seus quadros um imenso desperdício de óleo.
A atuação de Timothy Spall passa segurança, mas não chega o grande destaque da película uma vez que os produtores pareceram perdidos sobre o rumo do longa a partir da metade final. Os casos de Turner com as duas mulheres de sua vida se resume basicamente ao sexo – apresentado como um simples desejo carnal. Apenas Mike Leigh pode nos esclarecer o motivo deste tipo de abordagem, mas certamente esta seria uma das possíveis saídas para uma licença artística que talvez envolveria muito mais o espectador.
O sucesso do filme na crítica americana passa muito mais pelo excelente trabalho feito pela direção de arte, que foi impecável ao reconstruir o período vitoriano em suas várias faces – desde os círculos de elite até as mazelas da sociedade. A excepcional fotografia que apresenta com precisão as mais variadas inspirações de Turner torna-se o elemento destaque de um filme com um grave problema de continuidade. Um ótimo exemplo de um longa com um projeto impecável mas que pecou na execução.
NOTA: 6/10