Nightcrawler (O Abutre, no Brasil) mostra um dos mais claros exemplos de como trabalhar a progressão de um personagem no cinema moderno.
É muito interessante observar as várias fases de Bloom em sua tentativa de avançar na vida de nightcrawler – que seriam aqueles homens que vão atrás da notícia. Apesar de no Brasil as equipes de televisão ficarem a cargo deste tipo de cobertura, nos Estados Unidos esse tipo de trabalho virou um grande aliado dos noticiários, que buscam as melhores imagens para os crimes que vão dar audiência e retorno do público. Em um primeiro momento, descobrimos que nosso protagonista, Louis Bloom (Jake Gyllenhaal), é o tipo de homem que é muito decidido a conseguir tudo o que estiver em seu alcance. Seja para roubar um relógio ou persuadir o próximo. Desesperado por uma fonte de renda, certo dia ele acompanha o resgate de uma mulher que sofreu um acidente na estrada – e o trabalho de um nightcrawler para conseguir o melhor ângulo das filmagens para vender para as emissoras de TV. É então que Bloom decide tentar a vida nesta difícil profissão. Aos poucos, vemos todo o potencial deste homem ser despejado em uma atividade na qual ele desenvolve com uma frieza tremenda, sem temer a morte.
Durante a exibição, cheguei a pensar: “que coisa, o Jake parece que está interpretando um cara que não gosta de pessoas”. Para minha surpresa, este pensamento, que acredito que seja uma conclusão natural da exibição deste filme, é confirmado pelo próprio Bloom. Após conseguir alguns sucessos com vídeos que ele consegue vender para uma emissora que ocupa o último lugar na audiência, ele passa a se aproximar da diretora-geral de programação, Nina (Rene Russo). E também seu próprio negócio com o garoto Rick (Riz Ahmed), que entra como navegador do carro pilotado por Bloom apenas pela grana.
Como espectadores, torcemos para que sempre ocorra um desfecho positivo dentre os mais variados tipos de crime que Bloom passa a cobrir. A fotografia de Robert Elswit explora os principais pontos de Los Angeles durante o dia, para contrastar com as longas noites de investigação. O ambiente tenso criado a partir do corte de cenas nas últimas cena é excelente. A recompensa para um filme que focou muito no desenvolvimento de Bloom para coroar sua loucura com um caso extremamente imprevisível, que exige planejamento, coragem e sorte.
Apesar da ótima imersão, a cena final da história não consegue abraçar o clímax da cena anterior. A equipe de produção optou por algo muito aberto, até para não descartar a hipótese de rodar uma sequência. O problema é que ficamos com várias perguntas em aberto e o protagonista resume sua despedida a um bocado de frases de efeito. Não agrada, mas não tira o brilho de Gyllenhaal, que consegue o feito de engatar cinco longas de boa aceitação do público e da crítica – fato muito raro para um ator de sua idade.
NOTA: 7/10
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