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Fury (Corações de Ferro) – 2014

Esta é a primeira análise brasileira do filme Fury (Corações de Ferro, no Brasil).

Assim que entrei para a faculdade de história, tinha só uma coisa em mente: estudar a Segunda Guerra Mundial. Os anos passaram, meu objeto de pesquisa mudou, me formei, mas a paixão pelos fatos permaneceu. Este ano já tive uma decepção imensa com The Monuments Men e admito que entrei no cinema com a sensação de que talvez o longa dirigido por David Ayer virasse outro flop.

Para entender e críticar Fury, convido o leitor a discutir brevemente sobre o mês de abril de 1945, período em que se passa o longa. Após a ofensiva nas Ardenas, encerrada em janeiro daquele ano, o exército alemão estava aos pedaços. Com poucas linhas de suprimento, com munições escassas e sem homens para defender os ataques que vinham de duas frentes de batalha (americanos, franceses e ingleses pelo oeste e soviéticos pelo leste), Hitler apostou suas últimas fichas no Volkssturm, milícia que era a última linha de defesa da Alemanha nas regiões em o exército não conseguia cobrir.

A história trata da equipe de Don Collier (Brad Pitt), que orgulhosamente mata nazistas no tanque Fury. Nos últimos dias de guerra, os homens recebem o jovem e inexperiente Norman Ellison (Logan Lerman) no grupo. Ao mesmo tempo em que o garoto deve deixar para trás seus princípios para se tornar uma máquina de guerra, sua convivência com seus companheiros Gordo (Michael Peña), Bible (Shia LaBeouf) e Coon-Ass (Jon Bernthal) muda definitivamente sua trajetória, que também é marcada por um breve romance com uma alemã.

É inegável toda a pesquisa histórica por trás do filme. Deixando de lado o penteado de Brad Pitt, o retrato cinzento dos últimos dias da guerra é chocante. Os enforcamentos organizados pela SS contra os “traidores” (aqueles que se negavam a lutar no Volkssturm) e os suicídios coletivos retratam muito bem o desespero que tomou conta dos nazistas antes da queda final. Diferentemente da maioria dos filmes americanos que cobre o período, na metade inicial do longa não existe nenhuma tentativa de coroar os estadunidenses, o que fica claro, por exemplo, no assédio dos soldados às mulheres alemãs.

O filme seria excepcional se não fosse justamente a tentativa de criar heróis no campo de batalha, em uma história totalmente fora do padrão aceitável. Quando o grupo de Collier fica isolado, eles partem para atacar uma divisão de pelo menos trezentos soldados alemães. Se eles fossem crianças ou senhores de idade da Volkssturm eu até entenderia, mas Brad Pitt – é claro – enfrenta uma tropa de elite da SS. Pelas reações que vi no cinema, boa parte dos espectadores presentes se emocionaram com o desfecho final. Poucos foram aqueles que olharam criticamente para o que era apresentado na tela.

Ponto positivo para a trilha sonora de alta qualidade (trabalho do grande Paul N.J. Ottosson) que cria pequenos momentos de tensão que fazem toda a diferença. Se a equipe de Fury optou por fazer um filme de guerra sem se basear diretamente em um caso real, tal decisão deve ser respeitada por conta do produto final. Não se trata de um filme memorável, mas certamente estamos falando de um longa que vai render muitas discussões e que talvez tenha alguma força para renovar as produções ligadas à Segunda Guerra Mundial.

NOTA: 7/10

IMDB

 

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