Caros leitores. O especial dedicado aos grandes diretores dá um tempo neste mês para abordarmos um dos períodos mais controversos de Hollywood: a metade inicial da década de 1930. Foi neste período que uma série de filmes de crime anterior ao código Hays (para padronização, irei utilizar o termo Hays Code aqui no site) colocou um ponto de interrogação na cabeça das produtoras e da sociedade americana: qual é o limite de um filme de crime?
Minha querida professora Jeanine Basinger, da Wesleyan University, certa vez me disse que todo filme de crime até a década de 1950 queria ser um novo Little Caesar (Alma no Lodo, no Brasil). A a obra dirigida pelo jovem Mervyn LeRoy teve como base os alicerces deixados por Underworld, já analisado aqui no site, e desfrutou de total liberdade para ter seu roteiro baseado em cima do livro homônimo de W. R. Burnett, lançado dois anos antes.
Caesar “Rico” Bandello (Edward G. Robinson) e seu melhor amigo Joe Massara (Douglas Fairbanks, Jr.) são dois bandidos que se mudam para Chicago em busca de dinheiro. Eles se aliam ao poderoso Sam Vettori (Stanley Fields) para controlar territórios do crime e prosperar. Quando a morte de um comissário de polícia parece tornar as coisas mais difíceis, Rico deixa clara sua intenção de ser o dono da cidade e se impõe como um dos mais temidos criminosos que Chicago já conheceu.
O filme deixa alguns furos na história por conta de sua curta duração. Os 80 minutos encomendados pela Warner não conseguem dar ao espectador uma sensação de profundidade na história, tratando assaltos e mortes de uma maneira superficial, coisa que também ocorre com a maioria do elenco de apoio, com pobres interpretações. Não vamos cometer um anacronismo ao analisar este longa de 1931 com nossa bagagem de 2014, até porque existe uma ponte gigantesca separando duas realidades completamente diferentes. Os críticos da época elogiaram o que chamaram de “toque rápido” do filme, muito devido a atuação do grande Edward G. Robinson (que está na listinha de atores injustiçados pela Academia por nunca ter levado nem mesmo uma nomeação ao Oscar).
A abordagem positiva ao bandido não foi bem recebida pela Igreja – mesmo fato que aconteceria com Public Enemy um ano depois. Além disso, a insinuação de que o protagonista seria homossexual rendeu muita discussão. Mas o fato é que Rico é um personagem cativante, com muita história por trás do que apenas é falado e visto neste longa. Deixo a recomendação aos leitores para ir atrás do Blu-Ray, que conta com várias horas de extras, incluindo um minidocumentário chamado Little Caesar: End of Rico, Beginning of the Antihero, essencial para compreender o porque Little Caesar é considerado o avô de todos os filmes de crime.
NOTA: 8/10