De tempos em tempos sempre vejo uma interessante discussão na internet: qual é a melhor comédia da história do cinema? Quem conhece a filmografia de Chaplin diz ser uma difícil tarefa apontar seu melhor longa no gênero que ele popularizou, mas The Gold Rush sempre é lembrado pela famosa cena do Oceana Roll Dance. Os fãs de Buster Kreaton apontam The General, que também é minha comédia favorita. A terceira via escolhe Safety Last, estrelado por Harold Lloyd como responsável por uma das cenas mais difíceis e bem orquestradas do cinema mudo de Hollywood.
A cena inicial deste longa é inesquecível! Um homem está atrás das grades. Sua família chora e é consolada por um padre. Ao fundo, podemos ver uma corda posicionada e um policial pedindo para o homem ter pressa. O que poderia ser o começo de uma história sobre uma condenação a morte ganha outros ares quando descobrimos que estamos em uma estação de trem e que tudo não passava de uma ilusão criada pelos produtores: as “grades da prisão” na verdade eram apenas barras que dividiam as sessões da estação e a corda para a forca era apenas uma pickup hoop (instrumento utilizado para dar ordem aos trens na década de 1920). As mulheres choravam porque o protagonista estava tentando a sorte na cidade grande para poder realizar o sonho de se casar com a bela moça (interpretada por Mildred Davis, que se tornou esposa de Lloyd após a produção deste filme).
Só que quando Lloyd chega em Los Angeles descobre que arrecadar dinheiro não vai ser uma tarefa fácil. Ele começa a trabalhar como vendedor em uma loja de departamentos e envia cartas para sua mulher dizendo que é o diretor geral. Até que um dia ela vai visitar seu amado e ele decide arriscar sua vida em um plano para levar 1000 dólares (o que valia quase 150 mil dólares com a inflação de 2013 americana corrigida).
O clímax está na famosa cena em que o protagonista escala o prédio da International Savings Building (ou o prédio de doze andares de Bolton, como referenciado no longa). Apesar do final ser previsível, é impossível não ser sugado para a história e acompanhar os vários problemas que Lloyd enfrenta para concluir sua tarefa e chegar ao topo. O título é um trocadilho a popular frase americana (Safety First, ou segurança em primeiro lugar). Aqui a segurança é deixada de lado. No Brasil o filme recebeu o título “O Homem Mosca” por influência do mercado de língua espanhola, que também adotou tal nome.
Safety Last! mostrou o alto nível de atuação de Lloyd. Ele adota uma postura facial nas telas muito próxima de Chaplin, com um sorriso aberto a cada confusão com um policial ou fazendo graça até mesmo em uma situação de vida ou morte. Apesar de ter feito mais dinheiro que Chaplin na década de 1920, Lloyd não se adaptou a transição dos mudos para os talkies e teve dificuldades para encontrar projetos a partir da década de 1940.
Uma comédia única! Aos leitores que ainda não viram esta pérola, recomendo ir atrás o quanto antes. 70 minutos de risadas garantidas, proporcionadas pelo terceiro gênio do cinema mudo.
NOTA: 9/10