Quando Dracula foi lançado, em 1931, a Universal Pictures proclamava que a história baseada no clássico de Bram Stoker era “o filme mais assustador já produzido”. Talvez naquela época realmente esta afirmação pudesse ser discutida a fundo (e talvez até fosse verdade). Mas hoje acredito que o horror a que estamos acostumados se distancia muito desta longa dirigido de Tod Browning, um dos diretores mais preguiçosos de que se tem notícia (no caso desta película, ele deu o controle da maioria das cenas para Karl Freund, por exemplo).
Todos nós conhecemos a história do famoso Conde Drácula. O vampiro mais famoso de Hollywood se alimenta de sangue humano e pode se transformar em morcego ou lobo a qualquer momento. A escolha do ator principal foi essencial para o sucesso do filme: Bela Lugosi fala com o sotaque muito carregado. O húngaro usou sua voz para dar um ar de tensão e medo: a cada cena em que Dracula abre a boca, o “r” esticado já mostra que suas intenções não são as melhores (exemplo disto é a frase I never drrrrink wine, que virou um instant classic). Como era comum na época, os atores investiam muito nas expressões faciais: Lugosi usa caras e bocas diferentes para dar traços aterrorizantes ao seu personagem. A tática que fez muito sucesso na década de 1930, quando vista hoje, parece muito forçada. Por isso sempre convido o leitor não cometer anacronismos e entender que aquele era o padrão de atuação vigente no período.
Claro que o filme tem várias falhas. A história não tem um desfecho satisfatório, os cenários foram montados às pressas e a transição das tomadas é bastante confusa. Quanto a este último ponto, até não posso culpar os produtores: como havia escrito no review de The Broadway Melody, Dracula está situado na transição dos filmes mudos para os talkies. Com isto, além da cópia original foram criadas reproduções com intertítulos para os cinemas sem a nova tecnologia.
Este filme foi o grande sucesso de Lugosi no cinema. Ao longo dos anos ele foi perdendo espaço para Boris Karloff. Seu final em Hollywood foi trágico: viciado em várias drogas, ele aceitou fazer pequenos papéis nos filmes de Edward Wood Jr em troca de uns dólares.
Clássico essencial para todas as fãs de filmes de terror. Mas não espere muitos sustos: tente aproveitar o filme sem se deter aos erros técnicos. Caso contrário, a experiência pode ser bastante prejudicada.
NOTA: 7/10