Por mais que eu entenda parte do ódio relacionado a polêmica figura de Lars von Trier, acho que todos concordam que este senhor dinamarquês tem uma visão muito ambiciosa sobre o que é e como se faz cinema. Seus filmes sombrios e carregados de simbolismos, além de sua grande capacidade para escolher os protagonistas de seus longas são algumas de suas marcas. Querendo ou não, Lars parece gostar de associar sua imagem aquela frase clássica que diz “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. Seus filmes proporcionam calorosas discussões, que passam desde questionamentos sobre a religião até debates sobre a essência do ser humano.
No entanto, comecei a ver a primeira parte de Nymphomaniac sem apostar alto. Fiquei surpreso ao encontrar não apenas um roteiro excelente e bem articulado, mas também uma ótima direção de arte.
O filme inicia com a tela completamente preta. Barulhos de chuva e passos nos levam ao encontro inicial dos protagonistas. Joe (Charlotte Gainsbourg) está sangrando no meio da rua e um senhor chamado Seligman (Stellan Skarsgard) fica comovido com a cena e a leva pra casa para que ela possa se recuperar de seus ferimentos, já que a mulher rejeita a todo custo ser levada ao hospital. Ela abre seu coração e conta a história de sua vida, justificando o motivo dela se considerar “uma pessoa muito má”. Ninfomaníaca autodiagnosticada, sabemos através de vários flashbacks como Joe teve suas primeiras experiências sexuais, a relação dela com seu pai (Christian Slater), seu confronto com a mulher (Uma Thurman) de um de seus casos e sua busca pelo seu verdadeiro amor (Shia LaBeouf).
O que mais me irrita disto tudo é o pré-julgamento absurdo que foi divulgado por parte da imprensa: não, Nymphomaniac não está nem perto de ser um filme pornográfico. Muito pelo contrário. Apesar das várias cenas de sexo e de algumas pesadas tomadas, o filme não busca nenhuma sensação de excitação ou prazer no espectador. Somos convidados a entender o que se passa na cabeça da moça e suas motivações para realizar suas ações. O diretor apostou em velhos conhecidos para compor o elenco principal. Charlotte Gainsbourg e Stellan Skarsgård já trabalharam em outras oportunidades com Lars e agora assumiram papéis de destaque. A jovem Joe foi interpretada por Stacy Martin, atriz escolhida após uma rigorosa seleção. Particularmente, fiquei com a impressão de que o personagem de Skarsgard atuou como um espelho do diretor. Quem estava conversando com Joe não era um homem qualquer, mas sim o próprio Lars von Trier.
Apesar do espectador saber da existência da segunda parte, isto não significa que este longa termina de forma truncada. Pelo contrário: é um filme completo que conta a história proposta nos primeiros minutos.
Confira o review da parte dois aqui.
NOTA: 7/10