Quando os filmes que tratavam sobre a vida de personalidades estouraram em Hollywood na metade da década de 1930, os produtores americanos se dividiam sobre como levar para as telas do cinema o retrato de determinada pessoa em um tempo tão curto. Enquanto The Great Ziegfeld levou uma seleção dos altos e baixos da vida de Florenz Ziegfeld Jr, tanto o diretor William Dieterle quanto os estúdos Warner concordavam que seria impossível tratar sobre um persoangem tão complexo em apenas duas horas. Por isto, The Life of Emile Zola (A Vida de Emile Zola, no Brasil) não trata sobre a vida do popular autor francês, mas concentra-se apenas em um período de sua vida para analisar sua personalidade e a sociedade francesa na transição do século XIX para o século XX. Ou seja, se você procura um retrato sobre Germinal, por exemplo, vai se decepcionar bastante.
Paul Muni interpreta o personagem que dá título ao longa. Após uma breve introdução sobre como Emile ganhou fama e dinheiro (graças a publicação de Nana) e seu restrito círculo de amizades (no qual o pintor Paul Cézanne (Vladimir Sokoloff) desponta como seu principal confidente), mergulhamos no caos e na baderna gerada na França graças ao infame caso Dreyfus. Para quem não sabe, o relato a seguir trata sobre um dos maiores casos de injustiça de que se tem conhecimento. Em 1894, o serviço secreto francês descobriu uma carta que comprovava a existência de um traidor dentro do exército. A carta enviada a embaixada alemã dava detalhes sobre os armamentos e táticas de guerra da França. Não se sabe o motivo certo, mas o comando do exército acusou o capitão Alfred Dreyfus (interpretado no filme por Joseph Schildkraut) como o autor da carta. Ele foi julgado em uma corte marcial e condenado a prisão na infame Ilha do Diabo, na Guiana Francesa.
Tanto a mídia quanto a opinião pública colocaram Dreyfus como o inimigo número um da França. Mas Lucie (Gale Sondergaard) consegue provas de que seu marido é inocente e vai atrás da ajuda de Emile Zola. O filme cobre todo desenrolar do caso: o exército se negou a realizar um novo julgamento (muito pelo motivo de tentar evitar uma perda de prestígio por ter colocado nas grades um homem inocente) e a justiça francesa só entrou no caso após Zola publicar no jornal L’Aurore o artigo “J’accuse …!”, onde o escritor defendeu com unhas e dentes Alfred e fez pesadas acusações contra o chefe do comando do exército, o General Pellieux. Mais de três quartos do filme são dedicados apenas a análise deste caso.
Diferentemente de The Great Ziegfeld, a produção do filme vencedor do Oscar de 1938 foi bastante modesta. O elenco foi composto por artistas desconhecidos e a Warner investiu apenas na contratação de Muni como protagonista. Isto se justifica pelo fato de que Muni aparece em todas as cenas do filme. Dos atores coadjuvante, Joseph Schildkraut é o único que chega a ter certo tempo na tela. Sua grande atuação lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante, desbancando Ralph Bellamy (The Awful Truth) em um dos primeiros upsets da história da Academia. Muni só não levou o prêmio de melhor ator por ter ganho no ano anterior. Um filme bastante acessível. A cena da humilhação de Dreyfus em praça pública é sensacional!
NOTA :7/10