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Bacurau – 2019

Nos últimos meses existe uma intensa discussão em torno do cinema brasileiro – com o grande temor de drástica queda na produção de conteúdo nacional por mudanças na ANCINE. A experiência de Bacurau, assinado por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é rica e extremamente importante em um momento como estes por vários sentidos, especialmente por provar que o cinema nacional produz conteúdo de excelência – esbanjando brasilidade sem precisar apelar para convenções e clichês, mantendo um agradável traço autoral e criativo que acompanha o espectador durante toda exibição.

Me agrada muito o estilo de cinema avançado aqui por Kleber e Juliano – tanto no estilo quanto no trabalho da questão técnica. Em primeiro ponto, a fotografia consegue explorar o potencial da região discutida – com uma ótima sequência de planos de estabelecimento. Aos poucos, vamos rodando pela comunidade e descobrindo personagens como Domingas (Sônia Braga) e Pacote (Thomas Aquino) – com personalidades bem definidas. Inicialmente, é a partir desta construção character-driven que vamos ficando íntimos de cada um, entendendo o dia a dia, os desafios e os relacionamentos.

É então que, de forma surpreendente, o filme promove o posicionamento de um grupo de antagonistas liderado por Michael (Udo Kier) – que coloca em prática um plano para literalmente tirar Bacurau do mapa. É difícil classificar Bacurau dentro de um gênero: poderia chamar de um western moderno ou mesmo de um novo western. Talvez a definição do western estranho (weird western) não seja tão absurda por conta dos subgêneros que são desenvolvidos durante a trama. O fato é que existe uma mensagem, existe construção e existe desenvolvimento. As cores, as canções e as afiadas linhas de diálogo da comunidade são elementos em torno da composição final.

Aliás, uma das fontes do sucesso desta produção gira em torno da sonoridade. Vi que Kleber mencionou no Twitter a importância do volume alto – e não poderia deixar de comentar como isso é importante! O trabalho de construção da trilha sonora e a série de efeitos da faixa final de composição conseguem despertar tensão, paixão e revolta. Também é pelo som que existe uma chave para a transição proposta em alguns momentos.

Bacurau é o tipo de produção que convida o espectador a assistir o longa novamente por conta do simbolismo – em vários níveis: você pode tentar fazer uma leitura do posicionamento dos caixões ou do uso do sangue como fonte de libertação. De outro modo, também é possível ler Bacurau em torno de uma análise poética: o museu da cidade, por exemplo, é mencionado algumas vezes – até de forma genérica. Quando a produção volta a referenciar o museu, justamente no clímax da trama, a riqueza de detalhes, a imersão com a história e a identidade nacional englobam o que existe de melhor na experiência do longa, criando espaço próspero para o gran finale.

Bacurau é um dos grandes filmes da temporada – e merece ser celebrado. É um orgulho para o país ver um longa deste calibre rodando festivais ao redor do mundo e conquistando diversos prêmios. Acredito que a comissão nacional do Oscar reconheça o potencial do filme – mas cabe avisar que a distribuição terá que se empenhar na campanha de promoção nos Estados Unidos – especialmente para evitar uma desclassificação pelo uso da língua inglesa para promoção de um arco narrativo (regra 13 da categoria, como ocorreu recentemente com o filme afegão Utopia, de 2015).

Comentário em vídeo:

NOTA: 9/10

IMDb

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