Jim Jarmusch tem um estilo muito peculiar: seu cinema é considerado restritivo para muitos, já que a construção e desenvolvimento de seus personagens é feita de forma lenta e poética. É verdade que uma “zom com” (comédia zumbi) pode ser considerada como uma curiosa adição em sua filmografia – mas é justamente a saída da zona de conforto que motiva o diretor. O resultado é The Dead Don’t Die (Os Mortos Não Morrem, no Brasil) – com um elenco de peso que reúne tradicionais parceiros de Jarmusch.
Os policiais Cliff Robertson (Bill Murray) e Ronnie Peterson (Adam Driver) estão em mais um dia normal de trabalho. Mas uma mudança no eixo da terra acaba despertando os mortos. Junto de Zelda (Tilda Swinton) e Mindy (Chloë Sevigny) – eles buscam proteção, da mesma forma que tentam assimilar a nova realidade.
Não estamos falando de um filme de terror, apesar de Jarmusch demonstrar respeito ao gênero. Talvez o fã de Shaun of the Dead (Todo Mundo Quase Morto) argumente que é possível unir terror e comédia – e eu concordo. Mas entendo que a construção proposta por Jarmusch está sustentada em uma base construída por George Romero, apesar de questionar suas decisões ao longo desta produção. São pequenos tributos feitos ao lendário pai dos filmes de zumbis – desde tomadas clássicas até conjunturas sobre a vida.
É possível entender esta produção como uma grande sátira, que visa montar alegorias políticas e sociais durante seus 100 minutos de duração. Do mesmo modo, a recorrente quebra da quarta parede busca no contato com o público a sustentação do humor seco da dupla de protagonistas – que é o ponto forte da produção: Murray e Driver são ótimos. A química deles merece destaque, e os dois se completam no estilo deadpan.
O grande problema de The Dead Don’t Die é outro: o tamanho do elenco e a falta de foco na narrativa. São muitos personagens na tela e inúmeros cortes. Jarmusch tenta unir tudo o que lança para o espectador apostando unicamente na construção feita em torno da dupla de policiais. Não é o suficiente: entre várias cabeças cortadas, um vazio total e uma tentativa desesperada para que o espectador interprete o filme como uma manifestação política na era Trump.
Este é mais um caso de um filme com um trailer forte – revelando até mais do que deveria – mas que acaba passando uma falsa impressão do produto final. The Dead Don’t Die seria uma ótima mini-série na TV, com tempo para explorar o contexto dos personagens, o pano de fundo da pequena cidade e a rotina dos habitantes. Faltou imersão e faltou direcionamento narrativo.
NOTA: 5/10