Após a reestruturação da Annapurna e recriação da United Artists, Booksmart (Fora de Série, no Brasil) foi posicionado pela companhia como um de seus principais lançamentos do ano. A comédia que marca a estreia de Olivia Wilde como realizadora pode até apresentar uma premissa exaustivamente explorada em séries de televisão e em outros filmes, mas tem um toque autoral que se diferencia muito do que é apresentado neste gênero nos últimos anos, tornando a experiência final satisfatória.
As amigas Molly (Beanie Feldstein) e Amy (Kaitlyn Dever) estão vivendo o último dia de ensino médio, com grandes planos para a faculdade. A dedicação aos estudos foi recompensada com vagas em Yale e em Columbia, e o futuro parece brilhante para ambas. Mas Molly acaba descobrindo que vários de seus colegas que davam atenção apenas para festas e drogas também conseguiram vagas em grandes universidades, como Stanford. Isso gera um conflito nas amigas, que prometem tentar aproveitar ao máximo a última noite no high school.
Por ser uma comédia construída em torno do rating R nos EUA – as linhas de diálogos são recheadas de piadas de cunho sexual e de duplo sentido. As quatro roteiristas responsáveis pela trama merecem aplausos por criar um rico filme, que trata de questões que passam desde a importância da amizade e o companheirismo até a rejeição e a dificuldade de aceitar uma novo etapa na vida.
Ao contrário das comédias de fim de high school masculinas, quase sempre voltadas para a busca do sexo, Booksmart promove um olhar íntimo nas personagens durante as trinta horas estabelecidas na narrativa do longa. A homossexualidade de Amy, por exemplo, não é usada apenas para justificar uma cena com outra mulher (como ocorre com tantas outras produções) – e tem uma importância explícita nas suas relações e na tentativa de engatar um último contato com outra jovem antes do fim de sua rotina. Olivia Wilde surpreende por fazer bons experimentos: closes e longas tomadas ressaltam a qualidade e o refinamento da argumentação de Amy e Molly, da mesma forma que uma hilária cena de bonecas quebra e revigora o raconto e tenta criar uma discussão “muda” – talvez o maior trunfo de Booksmart.
Uma comédia tão gostosa de assistir merecia uma sorte melhor: o marketing de Booksmart nos EUA foi muito bom, mas ainda assim o filme não conseguiu atingir o público alvo. Inicialmente existia uma expectativa de tornar este filme o Superbad (2007) desta década. Próximo do lançamento, a própria Annapurna já considerava bom uma aproximação dos números de Lady Bird. Mas em uma semana extremamente competitiva, especialmente com o lançamento de Aladdin – o filme teve um desempenho muito ruim nas bilheterias, com cerca de 9 milhões de dólares arrecadados nos EUA.
Comentário em vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=ATjFQPYGBeY
NOTA: 7/10