A Paramount correu um risco enorme ao dar luz verde para o remake de Pet Sematary (Cemitério Maldito, no Brasil). O livro de Stephen King é muito popular, e o longa de 1989 desperta memórias afetivas de vários fãs. E se o remake já é alvo de constante polêmica no cinema contemporâneo, neste caso temos um extra que deve ser considerado: a enorme liberdade criativa tomada pelos roteiristas, que se desvinculam do livro e do filme de 1989 ao propor diversas mudanças, desde a construção de um arco narrativo inicial até a própria conclusão do filme. Por conta disso, apesar do grande sucesso de bilheteria, Pet Sematary enfrentou resistência nos Estados Unidos dos fãs de King, que não gostaram das adaptações.
Como Pet Sematary não é um dos meus livros favoritos – e como não guardo boas lembranças do filme de 1989 – acredito que o passo dado pela Paramount foi certo para tentar a construção de algo sólido, quem sabe com potencial para continuar com a série no cinema. O remake cena por cena, por exemplo, seria inútil pois não corrigiria as diversas falhas do roteiro original, que apelava para um melodrama de baixíssimo nível para a articulação com o terror. Ainda assim, reconheço que a minha visão é minoria dentro da comunidade de leitores de Stephen King.
Louis (Jason Clarke) e Rachel Creed (Amy Seimetz) acabam de se mudar. Buscando o conforto e a tranquilidade, eles deixam a metrópole no passado e vão para a área rural do Maine com seus filhos, Ellie (Jete Laurence) e Gage (Hugo/Lucas Lavoie). Mas a família é abalada com a morte do seu gato, Church, que é atingido por um caminhão. Eles decidem enterrar o animal em uma área indicada pelo novo vizinho, Jud Crandall (John Lithgow). Mas o gato ressurge, e os problemas começam.
Vejo o remake como um grande upgrade do filme de 1989 na questão da qualidade da atuação: o comprometimento do elenco com o roteiro é total, e a remodelação do roteiro ajudou a retirar o excesso de melodrama que prejudicou o longa original trinta anos atrás. O principal diferencial do ponto de vista da argumentação está no uso do humor ácido como forma de quebrar o elo mistério-drama-terror, que acaba gerando desgaste dentro do gênero.
Mas Cemitério Maldito não é um filme de terror perfeito – aliás, longe disso. Em determinados momentos sofre da mesma doença dos filmes de terror dos últimos vinte anos – com construção voltada para um grande momento – geralmente jumpscare – e trilha sonora que, ao invés de auxiliar na construção da realidade proposta no filme, acaba virando refém de um bocado de cenas, marcando o que é e o que não é importante.
Com tudo isso, o bom trabalho técnico deve ser reconhecido, com destaque para a fotografia, com bons tracking shots e uso do azul. Polêmicas de lado, o remake de 2019 é melhor do que o longa original do ponto de vista geral, englobando produção e atuação. Só não será consenso por conta dos vinte minutos finais.
NOTA: 6/10