A excelente animação japonesa Mirai – com méritos reconhecida internacionalmente e indicada ao Oscar em sua categoria – é instigante por aproveitar todo potencial criativo em um roteiro muito bem estruturado e montado. Também destaca o trabalho do diretor Mamoru Hosoda, que vinha ganhando espaço e prestígio no Japão e que agora deve entrar definitivamente no radar da Toho como um dos grandes nomes do gênero em seu país.
Kun, um jovem garoto sente ciúmes de sua irmã, Mirai, recém nascida. É compreensível, e acontece em várias famílias: a criança deixa de ser o centro da atenção para que o bebe receba todos cuidados necessários. A mágica começa quando Kun começa a ter contato com pessoas do passado (como seu avô, veterano de guerra), presente (seu cachorro, em versão humana) e futuro (a própria Mirai).
Hosoda sempre teve uma atenção especial na relação familiar em seus filmes anteriores, mas esta é a primeira vez que, de fato, ele propõe uma análise estrutural desta. As visões – ou alucinações – de Kun avança não apenas a aceitação de sua irmã e da mudança de seu cotidiano, como também reforça a importância do elo de ligação dele com seus país.
Mirai tem um trabalho artístico belíssimo e original, que não busca copiar estilos consagrados ou seguir tendências estadunidenses, por exemplo. É uma produção voltada para o Japão, consumida pelo Japão e que tem um potencial incrível de internacionalização pela ótima junção da fantasia com a realidade. O plot relativamente simples, é acessível tanto para crianças – que podem mergulhar no mundo imaginário proposto por Hosoda – quanto para adultos, já que oferece uma reflexão sólida sobre a responsabilidade com os filhos e este cuidado extra na divisão de tempo entre eles.
Mirai, em suma, é uma animação encantadora. Para o futuro, espero que a Academia abra mais a categoria de melhor animação, deixando três vagas para produções estrangeiros ou independentes para quem sabe, um dia, um filme como este ter chances na disputa do prêmio.
NOTA: 8/10