Tinha grandes expectativas para Todos lo saben (Todos Já Sabem, no Brasil). Como fã de Asghar Farhadi, também sabia que a cobrança seria muito maior – seja pelo alto investimento ou pelo elenco estrelado com Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín. Após o lançamento em Cannes, no ano passado, o filme acabou perdendo mercado (só chega ao Brasil agora, em fevereiro) e foi apontado por colegas estadunidenses como o pior filme da carreira de Asghar. É isso mesmo?
Como é de costume, Asghar promove sua narrativa sem dar muito espaço para contextualização e apresentação de personagens, deixando muito claro que é tarefa do público captar indiretas, olhares e outros indícios que possam ajudar na elucidação da história.
Laura (Penélope Cruz) vive em Buenos Aires, com seu marido, Alejandro (Ricardo Darín) – mas vai com seus dois filhos para sua terra natal, um vilarejo próximo de Madrid, para prestigiar o casamento de sua irmã. Ela retoma contato com Paco (Javier Bardem) – com quem teve um caso antes de partir para a Argentina – e os minutos iniciais do filme logo explicam o título. Todos já sabem da relação amorosa de Laura e Paco. O sequestro da filha de Laura, no entanto, acaba com a festa de casamento e coloca a família em alerta: os bandidos pedem 300 mil euros e ameaçam matar a moça caso ocorra algum tipo de alerta para a polícia.
É muito interessante acompanhar a proposta narrativa do filme. Durante a primeira hora temos um thriller de primeiro nível, no mesmo cinema íntimo e original que Ashgar nos acostumou.
O problema, no entanto, começa quando a narrativa é encaminhada para uma (tentativa de) conclusão. Sabe o caso de um filme que promove algo muito espantoso e novo e que não sabe fechar tudo isso? Pois é. Todos Já Sabem sofre com isso – e, vamos deixar bem claro, Ashgar é o principal culpado.
Nos trinta minutos finais a aproximação com o melodrama típico de novela é lamentável, e acaba destruindo toda temática e avanços positivos feitos até então. Ainda assim, valorizo muito a atuação do elenco, com um Javier Bardem espetacular, em uma das grandes atuações de sua carreira, e o trabalho de fotografia.
Acho até maldade estabelecer comparações com o restante da filmografia de Ashgar, mas talvez não seja absurdo pensar que Todos Já Sabem, sim, é uma decepção. Esperava um pouco mais de uma das mentes mais criativas do cinema contemporâneo.
NOTA: 7/10