A lista de curtas de documentário neste ano é variada e, de certa forma, surpreendente. Proponho uma rápida análise dos indicados ao Oscar.
A Night at the Garden: Sem dúvida alguma a indicação deste documentário tem um peso político. É verdade que tudo o que ronda o nazismo interessa à Academia, sempre com a máxima de divulgar os crimes e a maldade para que isso nunca mais ocorra. A surpresa, no entanto, está na concepção deste curta. São apenas sete minutos de imagens recuperadas e editadas em torno de um discurso de nazistas estadunidenses em Nova York, em 1939, com críticas fortes à imprensa. A impressão final é a de uma indicação completamente voltada para o contexto contemporâneo. Apesar do valor e do interesse histórico, não tem um projeto original e tampouco promove questões amplas. Seria melhor aproveitado em um documentário próprio com mais ênfase no nazismo nos EUA. NOTA: 5/10. IMDb
Lifeboat: Assisti este curta no final de 2018 e desde lá tinha a impressão de que seria indicado, pois trata de uma questão extremamente relevante e que envolve política e direitos humanos. A crise de refugiados na Europa já foi alvo de outros filmes e documentários, mas o foco de Lifeboat – gravado em 2016 – foi explorar a ação da Sea-Watch, iniciativa que auxilia os refugiados em alto mar, responsável por evitar centenas de mortes por afogamento, por exemplo. Lifeboat propõe uma ampla reflexão sobre estilos de vida, diferenças culturais e políticas para refugiados. NOTA: 7/10. IMDb
Period. End of Sentence (foto). Sem dúvida o curta que mais causa impacto nesta lista. A menstruação ainda é tabu na sociedade da Índia. O curta analisa o cotidiano de um pequeno grupo de mulheres situadas na região metropolitana de Déli. A desinformação – propagada especialmente por conta do fator cultural – é forte: o sangue é visto como sujo, homens acham que se trata de uma doença e até mesmo as mulheres acham que quem está no período da menstruação não pode rezar por ter seu corpo comprometido. A precária condição de higiene e as dificuldades econômicas do país fazem com que menos de 10% das mulheres tenham acesso à absorventes – e a falta deste produto explica o motivo pelo qual tantas meninas abandonam a escola durante o ano letivo – criando um círculo vicioso no qual a mulher não consegue concluir sua formação básica e acaba dependendo exclusivamente do homem ou ganha dinheiro em profissões de baixa remuneração. Após o contexto geral da situação, o curta promove durante alguns minutos a iniciativa The Pad – que produz absorventes de baixo custo. Uma coisa que parece simples para o ocidente mas que é relevante e que já mudou a vida de muitas mulheres por lá. NOTA: 8/10. IMDb
Endgame. Ganhou muita força com a distribuição da Netflix. Este curta trata sobre a morte, mas de forma diferente. Com quase quarenta minutos de duração, seguimos famílias que tem a difícil missão de se preparar para dar o adeus final para seus queridos que possuem uma doença terminal. O curta mostra como é difícil lidar com a ideia de que uma pessoa especial que em um dia sorri com esperança no outro está deitada em uma cama sem chance alguma de salvação. É a produção com melhor trabalho técnico na lista de indicados ao Oscar nesta categoria, promovendo, de fato, um estilo de cinema verdade que nos dias atuais parece ter sido deixado de lado pelos documentaristas. Possui um forte apelo emocional. NOTA: 8/10. IMDb
Black Sheep. É um dos curtas mais premiados de 2018. O foco é o racismo na Inglaterra – no turbulento período após a morte de Damilola Taylor. A mãe de Cornelius Walker decide se mudar, já que Taylor vivia muito próximo de sua residência. Só que Walker conviveu de perto com o ódio, e ao invés de lutar contra e resistir, acabou cedendo. Alisou o cabelo, usou lentes de contato azuis, trocou seu estilo de roupa e seu vocabulário. Black Sheep tem a proposta de resgate de identidade própria. Existem cenas dramatizadas que intercalam entrevistas e narração – tudo feito de forma profissional e agradável, ressaltando também o bom trabalho de montagem. NOTA: 7/10. IMDb