É louvável notar que a Netflix está investindo cada vez mais em distribuição exclusiva (apesar das inúmeras controvérsias). Mowgli (Mogli: Entre Dois Mundos, no Brasil) foi produzido pela Warner e vendido para a gigante do streaming pouco antes de iniciar o marketing nas salas de cinema, visto que o investimento de 100 milhões de dólares necessitava de um grande retorno (ou se tornaria no fracasso absoluto de 2018) . Apesar do filme ser bem diferente da versão da Disney, acredito que ele pode ser importante para discutir a entrada definitiva da Netflix no mercado nobre de Hollywood, e é sobre isto que farei nesta crítica.
Todos devem conhecer bem a história de Mogli (interpertado no filme por Rohan Chand). O diferencial desta versão seria o tom mais sério e mais comprometido do que o promovido pela Disney – com sangue e com um nível maior de violência, ainda que sutil.
Chega a ser estranho tentar estabelecer qualquer parâmetro de comparação da proposta do diretor Andy Serkis com o que a Disney fez com The Jungle Book. A Warner sabia que precisava de novos ares para sustentar a ideia de que sua interpretação da história de Rudyard Kipling era boa o suficiente para chamar a atenção do público e ganhar credibilidade a ponto de conquistar a confiança destes. Investimento não faltou: grandes artistas na dublagem (Christian Bale, Cate Blanchett e Benedict Cumberbatch), efeitos especiais muito bem trabalhados e boa coordenação geral. Mas falta algo.
Talvez, confesso, eu tenha me acostumado tanto com o desenho da Disney quando era pequeno que não soube fazer a diferenciação que Serkis tanto clamou para o público notar. Em suma, vejo este projeto com tons extremamente forçados no arco narrativo para desenvolver ao máximo a atuação de Chand, que está preso em uma reinvenção pouco original do Mogli (talvez este seria o ponto perfeito para a Warner explorar, visto que existem lacunas gigantescas no longa, especialmente na questão da fala com os animais).
Tenho certeza de que este longa daria prejuízo histórico se não fosse a salvação da Netflix, que aproveitou um conteúdo interessante e o tratou como o grande lançamento do mês para seu assinante. Ainda é difícil falar de números, mas a venda para a gigante do streaming já é um sucesso. A culpada por comprometer totalmente a chance do filme nas salas dos cinemas, por sinal, é a própria Warner, que tinha a intenção de lançar esta produção antes do longa da Disney e acabou atrasando quase três anos por problemas internos. A mensagem que a Netflix passa para Hollywood é de que está atenta ao mercado e que cada vez mais competirá com os distribuidores tradicionais para levar conteúdo inédito direto para o streaming, fato que seria considerado absurdo cerca de três anos atrás.
Se o Mowgli da Warner dificilmente valeria o ingresso – talvez só pela curiosidade ou pelos efeitos visuais – assistir em casa ao filme dá outra caracterização ao mesmo, tornando-o uma opção de entretenimento acessível e interessante para a família.
NOTA: 5/10