A franquia Halloween é um símbolo do gênero slasher e consagrada mundialmente por avançar a ideia de um antagonista forte, servindo de inspiração para tantas outras produções. Quando a Universal decidiu entrar em jogo para retomar a franquia – fato que não ocorria desde a decepção de Halloween III – e anunciou a volta de Jamie Lee Curtis, era nítido que a proposta abraçaria o conceito de continuidade retroativa, ou seja, desprezando todas as continuações do clássico de 1978. Continuidade, por sinal, não é bem a marca pela qual a franquia mais se destaca. Após brilhar em Hollywood na década de 1980 e rejeitar a participação em Halloween IV, os produtores correram para inventar que Laurie havia morrido – fato desmentido em Halloween H20 na tentativa de retomar o sucesso da franquia, novamente com a presença de Curtis. O filme de 2018, neste sentido, poderia muito bem rondar perspectivas expostas nos longas anteriores – especialmente até Halloween Ressurection – mas opta pelo descarte por acreditar que tal ato daria um novo gás.
Quarenta anos depois dos acontecimentos de Halloween, Laurie (Curtis) ainda é atormentada. Mesmo com Myers preso em uma unidade de segurança máxima, a notícia da transferência do assassino para outro local causa espanto e medo, já que ocorreria justamente na noite do Halloween.
Como é de praxe, o filme envole a trama idiota – idiot plot – já que o mínimo de bom senso resolveria a história em poucos minutos. Voltar para a fictícia Haddonfield, em Illinois, certamente poderia desenvolver locais do primeiro filme – mas isto sequer foi cogitado. Myers, interpretado por Nick Castle, o mesmo ator de 1978, tem uma presença mais forte e impiedosa, mas a trama que se alinha para voltar as origens, perseguindo babás, não é feita de forma natural, envolvendo indiretamente a família de Laurie e criando um ambiente de tensão artificial. Se Sam Loomis não está presente, seu discipulo, Sartain (Haluk Bilginer) atua como uma espécie de mediador do assassino com a sociedade, com uma função essencial na trama.
O diretor David Gordon Green, que ganhou popularidade após Joe, respeita as premissas básicas da franquia e faz um bom trabalho, na medida do possível. É certo que a conclusão do filme é aberta demais e que sequer revolve a proposta iniciada. Não existe uma cena pós-créditos nesta versão, mas sim uma pista de que Myers voltará em breve.
O bom resultado nos Estados Unidos, o grandioso marketing da Universal e a recepção dos fãs apontam para um revival do gênero slasher. Quem sabe outros produtores se inspirem e que eles tragam de volta outros serial-killers consagrados na história do cinema. O terror – profundamente explorado nos últimos anos por fórmulas ultrapassadas de sustos e fantasmas – agradece.
NOTA: 6/10