Damien Chazelle, um dos diretores mais talentosos dessa nova geração, apresenta First Man (O Primeiro Homem, no Brasil) – primeira produção biográfica de sua carreira. A chave para o sucesso do filme está na aposta em parcerias que já se provaram certas: Linus Sandgren na direção de fotografia, Tom Cross na edição, composições originais de Justin Hurwitz e uma ótima atuação de Ryan Gosling. Por não estar acostumado a trabalhar dentro do gênero, Chazelle contou com Josh Singer para adaptar a vida de Neil Armstrong a partir do livro homônimo de James R. Hansen, lançado em 2005, reeditado em 2012 e que conta com uma nova tiragem por conta do lançamento do longa.
Como tratar a história de um homem tão importante na história em apenas duas horas e vinte minutos? Todos sabem que as palavras de Armstrong (interpretado por Gosling) inspiraram gerações e marcaram época para todos os que assistiram a chegada do homem à lua. Um filme deste calibre poderia muito bem focar apenas na missão Apollo 11. Tal decisão, no entanto, seria extremamente ingrata aos homens que deram a vida para que o programa espacial estadunidense tivesse progressos. É por isso que parabenizo a condução de First Man e coloco como um exemplo dentro de seu gênero.
O laço dramático do filme se dá a partir da construção afetiva de Neil com a sua mulher, Janet (Claire Foy) – que superam juntos a morte de uma filha e a perda de colegas e amigos.
Como historiador, notei alguns pulos consideráveis dentro da cronologia do Projeto Gemini. Repito que a decisão foi lembrar dos homens que faleceram em missões foi acertada e merece todos elogios possíveis. É compreensível, portanto, que alguns fatos fiquem de fora. Afinal, estamos em um filme.
Mas pense na chegada do homem à lua. Quando saiu a primeira notícia sobre a produção deste longa, dois anos atrás, já tinha na minha cabeça uma super produção que focaria seu clímax dentro de duas tomadas: a mais óbvia, é claro, seria o primeiro passo de Armstrong; imaginei também que a imagem da bandeira estadunidense em solo lunar seria alvo de algumas cenas. Enganei-me. Apenas o passo é retratado com detalhe – e apesar da bandeira aparecer, ela não é destaque. Isto gerou controvérsia nos Estados Unidos – e alguns políticos do Partido Republicano disseram que o filme era anti-patriótico. Bobagem. A NASA tem todo o destaque, a bandeira dos EUA está presente nas casas, nos uniformes. E concordo com Gosling que Armstrong não se enxergava como ícone do patriotismo estadunidense, muito menos gostava de ser chamado de ídolo.
Na parte técnica o filme tem um destaque especial. Chazelle apresenta algumas das melhores transições de cenas que vi nos últimos anos, e não tem medo de usar efeitos adicionais para ressaltar a complexidade da missão. Tudo isso com as excelentes composições de Hurwitz. Existe uma interação ótima entre os dois protagonistas, que acentua os altos e baixos vividos antes da Apollo 11.
First Man provavelmente estará nas premiações da temporada. Tem uma argumentação central forte e clara, além de ótimas atuações e respeito pelas pessoas envolvidas. O desfecho proposto é diferente, deixando claro o recorte feito pelo diretor, sem oferecer informações adicionais sobre a vida de Armstrong ou de sua família – o que pode incentivar a leitura do livro (excelente, por sinal).
NOTA: 8/10