Ficção e dinheiro são duas palavras que, dentro do contexto do cinema, tornam-se conceitos homogêneos. É muito difícil trabalhar neste gênero sem algum tipo de financiamento que permita tornar realidade as ideias apresentadas no roteiro. Admiro a coragem da produção australiana Upgrade, dirigida por Leigh Whannell, justamente por tentar minimizar a falta de orçamento na produção com ótimas cenas que misturam drama e ficção.
Leigh tem uma história dentro do gênero terror, responsável pela estruturação da franquia Jogos Mortais, um dos maiores sucessos de bilheteria neste século. Seu trabalho como diretor, no entanto, é mais recente. Após uma estreia razoável no terceiro capítulo de Insidious – outra criação dele, por sinal – ele opta por uma virada total e se aventura dentro do competitivo mercado da ficção, onde um erro de planejamento pode ser vital para distribuição internacional.
No filme, o mecânico Grey Trace (Logan Marshall-Green), e sua esposa, Asha (Melanie Vallejo), que trabalha em uma empresa de tecnologia de ponta, se envolvem em um acidente com consequências catastróficas. Ela é assassinada por um grupo misterioso, e ele acaba tetraplégico. Meses depois, enquanto Grey ainda luta para descobrir a verdade sobre o acidente, o bilionário Eron (Harrison Gilbertson) sugere que ele faça uma cirurgia secreta para a implantação de um chip revolucionário – o STEM – que lhe daria uma vida normal com alguns “benefícios extras”.
O desenrolar da história é bem construído. Existem conflitos sólidos – e a sagacidade seca através das frases de efeito são bem utilizadas para dar mais corpo ao longa. O elenco cumpre bem o papel, e o protagonista dá seu máximo para fazer com que o público deixe de lado a falta de cenários mais chamativos e futuristas. Tanto é que o filme já conseguiu uma grande quantidade de fãs que estabelece comparações diretas com Black Mirror e Robocop – talvez duas fontes de inspiração para Leigh.
Upgrade, de fato, é um filme B. Mas merece total crédito por não optar por clichês tradicionais ao vender uma ideia original. Até consigo imaginar que, dada a repercussão positiva deste longa, alguma produtora estadunidense em breve compre os direitos para um remake.
NOTA: 6/10