Aaron Sorkin venceu o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2011 pelo seu trabalho em The Social Network. Foi a coroação do roteirista que anos antes dedicava-se exclusivamente a The West Wing. Durante alguns anos Aaron foi convidado pelos produtores a sentar na cadeira do diretor e tomar conta de todo processo criativo de um filme. Após algumas rejeições, Molly’s Game (A Grande Jogada, no Brasil) mostra um roteiro afiado mas uma execução muito abaixo da expectativa.
A pressão de Sorkin é justificava pela qualidade de seus trabalhos, com personagens bem definidos e uma estrutura narrativa impecável. Foi a mesma pressão que Taylor Sheridan passou durante o lançamento de Wind River, ainda que este seja um nome para o futuro.
Adaptado das memórias de Molly Bloom e com Jessica Chastain como protagonista, o longa mostra passagens da vida de Molly, que chegou a ser considerada um prodígio da equipe de esqui dos EUA. Após um acidente que interrompe sua trajetória no esporte, ela deixa sua rotina e lado, tira um ano sabático e vai para Los Angeles, onde acaba envolvida no meio das grandes apostas de poker. Para não entregas algumas surpresas – apenas salientando o que é dito nos trailers e no marketing – Molly acaba na mira do FBI e conta com a ajuda do advogado Charlie Jaffey (Idris Elba) para tentar se reerguer.
É notório que o filme tem uma história extremamente cativante. Obviamente Sorkin não pode utilizar em seu filme os nomes reais dos vários jogadores que apostavam milhões de dólares por dia nas mesas de poker comandadas por Molly (como Ben Affleck e Leo DiCaprio) – mas algumas pistas instigam a curiosidade do público, que pode comprovar, por exemplo, que o personagem X (interpretado por Michael Cera), é Tobey Maguire.
Como é do estilo de Sorkin, temos diálogos rápidos, contextualização forte e um sentimento de proximidade entre o público e os personagens através de detalhes das vidas intimas e de suas tarefas diárias. Ao mesmo tempo que tomamos conhecimento, por exemplo, das drogas utilizadas por Molly para ficar acordada e conseguir lucrar alguns dólares a mais em um dia, temos, por outro lado, a filha de Charlie lendo a peça As Bruxas de Salem, de Arthur Miller, que abre espaço para considerações no plano simbólico que batem com a história.
Me desagradou, no entanto, o melodrama criado a partir de duas linhas que me pareceram desnecessárias: a primeira foi com a tentativa de tirar o peso das costas de Molly por sua personalidade ‘peculiar’ para resgatar traços de sua infância e sua conturbada relação com seu pai – que ganha força na conclusão; outro fator negativo foi a completa omissão de detalhes sobre a investigação do FBI presentes no livro. Não coloco a culpa no Sorkin roteirista, mas talvez no Sorkin diretor, que não teve uma voz crítica para estabelecer alguns limites dentro de seu projeto.
Indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado, Molly’s Game conseguiu números de bilheteria positivos ao redor do mundo. Acredito que Sorkin vá melhorar muito em seu próximo projeto, com uma pressão muito menor nas costas.
NOTA: 6/10