Confesso que recebi com surpresa a indicação de L’insulte (O Insulto, no Brasil) ao Oscar de melhor filme estrangeiro, pois pela primeira vez em cinco anos a Academia não nomeou um filme que teve pouquíssima visibilidade internacional – vaga que, teoricamente, foi ocupada justamente por este filme libanês. Com rodagem nos festivais ao redor do mundo, o longa de Ziad Doueiri impressiona pelo forte teor político.
Toni (Adel Karam) é um apoiador do Partido Cristão (Forças Libanesas). Ele assiste frequentemente a discursos de líderes do partido pedindo a deportação de palestinos e canta as marchas de guerra utilizadas na guerra civíl. Dono de uma oficina em um distrito cristão na capital, Beirute, Toni vive com sua mulher, a grávida Shirine (Rita Hayek). Durante reparos na infraestrutura local, o que seria um pequeno incidente cotidiano ganha enorme proporção na medida que o palestino Yasser (Kamel El Basha) profere um xingamento a Toni, fato que passa a lhe perturbar.
A força do filme está na condução da narrativa, logo após notarmos que Toni vê seu ego ferido e exige uma retratação formal do palestino. O drama na corte por vezes parece demasiado longo, especialmente a partir do momento em que “o insulto” toma um caráter cíclico, atingindo os dois protagonistas de forma igual ao mesmo tempo que abraça a conturbada história do país, trabalhando o contexto do ódio de Toni aos palestinos e a entrada de Yasser no país, por exemplo. Infelizmente a conclusão não está no mesmo nível do drama inteligente que toma espaço ao longo da exibição. Obviamente a mensagem de reconciliação nacional foi a saída mais fácil, e por isso tal decisão nem pode ser criticada, já que o longa conseguiu ótimos números no mercado internacional e foi coroado com uma indicação em uma das mais disputadas listas da história do prêmio de filme estrangeiro da Academia. Aliás, não se deixe enganar pela mensagem inicial de que o filme não representava a visão do Líbano. O Ministro da Cultura do país peregrinou por vários festivais de cinema promovendo o filme e participando de discussões em universidades sobre o impacto da produção na problemática vida política do país.
L’insulte, por outro lado, aos poucos se firma como o mais importante filme da história do cinema libanês das últimas décadas, com grande probabilidade de passar, ao longo dos anos, À l’abri les enfants, do próprio Doueiri – sem dúvida o filme mais reconhecido do país internacionalmente. É ótimo prestigiar um filme que levanta tantas discussões válidas no problemático mundo contemporâneo, e mais uma vez Doueiri merece aplausos e reconhecimento por isso.
NOTA: 7/10
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