All the Money in the World (Todo o Dinheiro do Mundo, no Brasil) certamente será lembrado como a produção que teve que ser refeita em duas semanas para evitar um desastre de bilheteria. Com as acusações de assédio sexual contra Kevin Spacey, o mundo cinéfilo, no geral, acompanhou atentamente os avanços feitos por Ridley Scott e cia para posicionar o filme ainda na janela de lançamentos de 2017, contando que a qualidade do filme seria reconhecida e receberia nomeações. Apesar de discordar fortemente de várias decisões tomadas por Scott, é de se louvar seu esforço.
O espectador que conhece a história dos bastidores do filme certamente prestará atenção em alguns detalhes que causaram polêmica no final do ano passado. Mesmo com o filme pronto e com o marketing explorando a imagem de Spacey, que era fortemente cotado para disputar o Oscar de melhor ator coadjuvante antes de estourar o escândalo sexual, podemos imaginar as discussões acaloradas dentro da TriStar. Plummer teve que fazer um trabalho às pressas, que abusou do CGI e da boa vontade do elenco para retomar as filmagens (que acarretou em outra polêmica, que envolveu a diferença de pagamento entre as duas outras estrelas do elenco).
Não vejo qualquer problema em levar ao cinema versões adaptadas e modificadas de histórias reais, desde que o espectador seja alertado disso desde o começo. Scott foi bastante claro ao afirmar que seu filme era meramente inspirado em um dos mais relevantes sequestros do século passado. O que causa certo espanto é que nem isso foi o suficiente para dar rumo ao filme, que é absurdamente longo e que apenas tem força nas participações pontuais de Plummer, que merece, além da indicação ao Oscar, aplausos e mais aplausos pela classe com que interpreta o bilionário Getty.
Baseado no livro Painfully Rich, de John Pearson, acompanhamos o sequestro e rápidos flashbacks da vida de John Paul Getty III (Charlie Plummer), neto do lendário J.P. Getty (Christopher Plummer). Apesar dos sequestradores italianos exigirem a quantia de 17 milhões de dólares para libertar o rapaz, o drama começa quando Gail (Michelle Williams) afirma não ter um centavo em sua conta ao mesmo tempo que seu avô se nega a liberar o dinheiro por considerar que isto colocaria em risco seus outros 14 netos, que poderiam ser alvo de outros sequestradores. Getty, no entanto, envia o ex-agente da CIA, Fletcher Chase (Mark Wahlberg), para encontrar seu neto.
Não vou discutir a história real (clique aqui para ler uma boa matéria da Variety sobre o caso), mas acredito que algumas considerações devem ser feitas. Quando um diretor decide, em seu processo criativo, alterar e dramatizar determinadas passagens, geralmente a primeira ideia é que tal fato ocorreu para criar vínculos com o público. Em All the Money in the World, por exemplo, temos a aproximação da vítima com um sequestrador de “bom coração”, Cinquanta (Romain Duris), mas tal relação é completamente superficial e nada acrescenta.
As refilmagens das 21 cenas que Spacey apareceria (fora as outras cortadas), infelizmente apontam alguns erros. Quem tem um conhecimento sobre o processo de edição de efeitos especiais, certamente notará problemas de profundidade em determinadas tomadas, já que o uso da famosa tela verde foi a única solução. Além disso, a continuidade, de modo geral, foi afetada a tal ponto de Scott incluir em seu filme uma cena pela metade, onde o diálogo passa direto do ponto A para o ponto C.
All the Money in the World ainda conta com dois erros de casting e condução de personagens, com Williams pouco inspirada e Wahlberg em uma de suas piores atuações da carreira. A conclusão não é satisfatória – sequer explica o destino das pessoas retratadas – e infelizmente a casualidade é abusada.
NOTA: 5/10
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