The Greatest Showman (O Rei do Show, no Brasil) é um exemplo de filme fraco do ponto de vista técnico e estrutural que ainda assim agrada o público que busca diversão. Uma análise mais apurada, no entanto, mostra que o longa dirigido por Michael Gracey na verdade celebra a vida de P. T. Barnum, um charlatão conhecido por propagar mentiras e abusar do que chamava de ‘freaks’ – pessoas com deficiência que eram escravizadas em lugares montados como zoológicos humanos.
Por conta disso, antes de analisar o filme em si trago um pequeno exemplo do nível de Barnum através da história de Joice Heth, uma escrava africana que foi comprada por Barnum em sua primeira exposição, em 1835. Barnum dizia que Heth era a ama de leite de George Washington e faturava a incrível quantia de 1500 dólares semanalmente expondo a mulher – em condições precárias de saúde – contando mentiras sobre Washington para um público que queria conhecer a mulher de 161 anos. Quando Heth morreu, Barnum fez uma autópsia pública de seu corpo e cobrou ingresso das 500 pessoas presentes.
O P. T. Barnum de Hugh Jackman, no entanto, é completamente descontextualizado. Apenas o nome é o mesmo de uma das figuras mais polêmicas dos EUA no século XIX. O protagonista aparece preocupado em dar tudo de melhor para sua mulher (Michelle Williams) e decide reunir ‘figuras exóticas’ para seu ‘circo’.
O roteiro apresenta um eixo narrativo peculiar e raro. O personagem de Jackman passa mais da metade do filme em uma trajetória ascendente desenfreada – sem qualquer contestação. Todos seus sonhos se realizam, tudo vira motivo de festa. No momento de adicionar tensão e desafiar essa lógica, The Greatest Showman usa o pior tipo de melodrama presente no mercado atual, e vende um drama barato em troca de gás para sustentar o desfecho da história – que torna-se ainda pior na medida que o tempo avança.
Como musical, o filme é absurdamente falho a partir do ponto de vista racional. Tendo em vista o público atual, os produtores optaram por músicas pop durante os anos 1800. Se não fosse por isso, talvez a canção Never Enough tivesse mais sorte em outro filme, já que realmente tem potencial. Dentro da produção, no entanto, nenhum número torna-se destaque justamente pela péssima condução do roteiro.
Com a história real nas mãos, The Greatest Showman consegue piorar sua imagem. O filme também sofre pelas decisões de casting (a tentativa de rejuvenescer Michelle Williams foi horrível e Jackman não consegue se provar como Showman completo, apesar de seu esforço). Em meio a tantos números musicais sem sentido, o sentimento final é de vergonha alheia – seja pela representação do século XIX apresentada ou mesmo pela análise final da estrutura do filme. Compreendo, no entanto, que o espectador que vai para a sala de cinema sem preocupação alguma possa achar o filme interessante pela falta de bons musicais no mercado.
NOTA: 3/10